Publicado em 13 Abr. 2023 às 11:35, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema, Cinema Português, Cinema da América-Latina)
O novo filme de João Salaviza e Renée Nader Messora será exibido na Seleção oficial do Festival de Cannes, secção Un Certain Regard, e apresenta uma história de resistência do povo Krahô.
"A Flor do Buriti", o novo filme de João Salaviza e Renée Nader Messora vai ter estreia mundial na Seleção Oficial do Festival de Cannes - Un Certain Regard. Continuando com os Krahô, depois de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, o filme traz ao festival francês o tema da luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca, no estado brasileiro de Tocantins.
O filme começa em 1940, quando duas crianças do povo indígena Krahô encontram um boi na escuridão da floresta, perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um massacre perpetrado por dois fazendeiros da região. Hoje, perante velhas e novas ameaças, os Krahô seguem o caminho sobre a sua terra, reinventando formas de resistência à ocupação do seu território.
"O filme nasce do desejo em pensar a relação dos Krahô com a terra, pensar em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos. As diferentes violências sofridas pelos Krahô nos últimos 100 anos também alavancaram um movimento de cuidado e reivindicação da terra como bem maior, condição primeira para que a comunidade possa viver dignamente e no exercício pleno da sua cultura", explica a realizadora Renée Nader Messora.
"Nós não trabalhamos com um argumento fechado. A questão da terra é a espinha dorsal do filme. Propusemos aos "atores" trabalhar a partir desse eixo, criar um filme que pudesse viajar pelos tempos, pela memória, pelos mitos, mas, que, ao mesmo tempo, fosse uma construção em aberto realizada enquanto fossemos filmando. A narrativa foi sendo construída com a Patpro, o Hyjnõ e o Ihjãc, que assinam igualmente o argumento", explica o realizador, João Salaviza.
"A Flor do Buriti" foi filmado durante quinze meses, em película 16mm, na Terra Indígena Kraholândia. Assim como em "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos", foi usada uma equipa reduzida e dividida entre indígenas e não indígenas. Relatos históricos baseados em conversas e a realidade atual da comunidade serviram de base para a construção da narrativa.
"A importância dos povos originários não reside apenas no conhecimento ancestral, mas também na elaboração de tecnologias totalmente sofisticadas de defesa da terra. Os Krahô estão radicalmente na contemporaneidade. O Festival também será importante como lugar para se formar novas alianças, e usar a sua capacidade de sedução cultural para que possam ser reativadas no futuro. De facto, o bolsonarismo foi um verdadeiro massacre, tanto na destruição dos povos e os seus direitos, como da terra. Agora, o que acontece é uma contra-ofensiva muito mais bela e forte que também tentamos filmar. O mundo está atento aos Krahô. É muito bom para nós, cineastas e aliados, ver o lugar que o filme pode ocupar.", ressalta João Salaviza.
O filme será exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, entre 16 e 27 de maio. Em 2018, a dupla João Salaviza e Renée Nader Messora, recebeu o Prémio Especial do Júri com "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos". Até hoje, foi o único filme português premiado na secção Un Certain Regard.