Publicado em 22 Jul. 2021 às 20:40, por Pedro Sesinando, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema, Cinema Português)
Exibidos os últimos títulos da competição nacional num dia de viagens entre as ilhas gregas e a serra de Serpa.
A competição nacional despediu-se de Vila do Conde com mais uma sessão tão eclética quanto fulgurante. A sessão abriu com "Timkat" de Ico Costa, trabalho do realizador que acompanha a celebração religiosa da Epifania na cidade etíope de Gondar.
Seguiu-se a primeira curta de Rosa Vale Cardoso, um nome desconhecido, mas que merece ser um dos destaques do festival. O seu "Se o que eu oiço é silêncio" apoia-se num argumento simples, mas muito bem conduzido (e filmado), suportado por uma excelente cinematografia e na sempre certeira utilização da música. Mas é, acima de tudo, um filme que vale pelas suas personagens que, embora fechadas no seu próprio processo individual, criam uma dinâmica colectiva de silêncio que carrega todo o filme. Em vinte minutos aproximamo-nos das personagens e queremos saber mais delas. Não me ocorre melhor elogio para uma curta-metragem.
A sessão terminou com "Sortes" de Mónica Martins Nunes, um olhar etnográfico sobre a vida nas comunidades da serra de Serpa. O olhar da câmara demora-se nos gestos e nos sons, entrelaçando a observação da natureza com a mecânica dos ofícios tradicionais e com o vagar do tempo. Mónica Martins Nunes só troca a observação pela encenação quando dá palco aos poetas populares, fenómeno que, posso garantir, é muito comum na serra de Serpa.
Foi também dia de nova sessão de competição experimental, rubrica que, até a julgar pela afluência de público, tem um espaço muito particular no festival.
Destaque para "Citadel" do britânico John Smith, uma reflexão sobre a pandemia e a gestão da mesma pelo governo britânico. Smith utiliza durante todo o filme, em voz-off, declarações públicas de Boris Johnson construindo uma caricatura do próprio Johnson.
Menção também para "Black Beauty" de Grace Ndiritu, que sugere uma entrevista fictícia a Jorge Luis Borges e tece uma análise à humanidade, à destruição do planeta e ao legado do colonialismo. Se ao início nos entusiasma a ideia de escutarmos Borges em ampla dissertação, rapidamente o conceito se esgota e o filme torna-se demasiado longo o que, numa curta-metragem, pode ser problemático.