Cartaz de cinema

Festival de Sundance 2022: os independentes ao luar de janeiro

Publicado em 12 Dez. 2021 às 13:19, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema)

Festival de Sundance 2022: os independentes ao luar de janeiro

O primeiro grande festival do ano volta a 10 de janeiro para transportar o cinema feito sem apoio dos maiores estúdios à estância de ski no Utah.

O alinhamento da edição 2022 do Festival de Cinema de Sundance foi revelado no final da semana. Entre os nomes conhecidos que despertam atenção no extenso alinhamento está "The Princess", documentário de Ed Perkins sobre a Princesa Diana que terá estreia mundial e honras de abertura no certame que decorre de 10 a 20 de janeiro 2022.

Uma década após os Óscares com o singular regresso ao mudo de "O Artista", Michel Hazanavicius apresenta um bem disposto "Final Cut", outra história ambientada nos bastidores do cinema, desta feita acompanhando a equipa de filmagens de um filme de zombies com baixo orçamento que se vê atacada por mortos-vivos reais.

Ramin Bahrani, de "99 Casas", "Fahrenheit 451" e "O Tigre Branco", surge em Sundance com "2nd Chance", documentário sobre Richard Davis, o proprietário de uma pizzaria falida que em 1969 inventou o colete à prova de balas dos tempos modernos e, para provar que funcionava, disparou à queima-roupa sobre ele próprio - 192 vezes.

Depois da série "Girls", Lena Dunham regressa ao cinema independente com "Sharp Stick" e uma premissa que lhe é familiar, a história do crescimento e despertar sexual de uma jovem mulher.

Com o pedigree de estrela nas adaptações de "As Cinquenta Sombras", Dakota Johnson protagoniza a primeira incursão nas longas metragens da realizadora televisiva Tig Notaro, a meias com a sua parceira Stephanie Allynne no drama "Am I Ok?", descrito como a história de amor de duas adultas através das complexidades da autodescoberta e do despertar pessoal.

Michael Kenneth Williams, ator que morreu em setembro passado, surge num dos seus últimos trabalhos no filme "892", acerca de um antigo fuzileiro que se esforça por regressar à vida civil.

"Good Luck to You, Leo Grande", terceira visita da cineasta Sophie Hyde ao festival, traz Emma Thompson como uma professora reformada que decide explorar a sua sexualidade.

Há ainda uma secção (não oficial) de atores e atrizes que decidiram passar para o lado de cá das câmaras: Jesse Eisenberg, dirige Julianne Moore no papel de Evelyn, uma mulher que dirige um abrigo para sobreviventes de violência doméstica em "When You Finish Saving the World", a humorista Amy Poehler olha para a vida de Lucille Ball em "Lucy and Desi", e Eva Longoria examina a rivalidade entre os pugilistas Oscar De La Hoya e Julio César Chávez em "La Guerra Civil". Depois, há a série documental em três partes sobre Kanye West, assinada por Clarence Simmons e Chike Ozah. "jeen-yuhs: A Kanye Trilogy" promete mostrar o resultado de mais de duas décadas de imagens inéditas do rapper.

Digital, diverso e ativista

The Janes

Após um ano de reclusão forçada por causa da pandemia, a organização de Sundance parece ter apreciado as possibilidades da exibição online e escolheu um formado misto para 2022. Os locais de exibição em Park City foram reduzidos de dez para sete e os filmes selecionados vão estar disponíveis também na plataforma digital, mas só dentro dos Estados Unidos.

Tabitha Jackson, diretora do Sundance International Film Festival, justifica a opção:

A dimensão online do festival foi algo que passámos a valorizar muito, após o ano passado. Precisamos de atrair públicos diversos e, para nós, esta ideia de sustentabilidade e de comunidade e cuidado é toda abordada com a existência de um dimensão online do festival. As pessoas não têm de voar até aqui a fim de participar. Não precisam de ter um certo estatuto sócio-económico para ficarem hospedadas durante dez dias em Park City. Não têm de ser capazes de navegar fisicamente pelas ruas geladas nas montanhas. Podemos expandir o leque de pessoas que podem participar no festival, no trabalho e no debate.

Este ano, o festival que decorre de 10 a 20 de janeiro exibe 82 longas-metragens, sendo 39 delas primeiras obras. A diversidade, tema tão caro à sociedade norte-americana, exprime-se através de 52% dos filmes realizados por mulheres; 1% por cineastas não binários; 35% por pessoas de cor; e 10% por cineastas assumidamente LGBTQ+.

Muitos dos filmes selecionados refletem também o clima atual e os temas habitualmente chamados "fraturantes".

"We Need to Talk About Cosby", de W. Kamau Bell aborda a questão da separação entre o artista e o seu trabalho a partir do caso extremo da antiga estrela da televisão Bill Cosby, acusado e condenado por crimes de violação e assédio.

O racismo é o foco em "Master", de Mariama Diallo, que acompanha três mulheres de ascendência africana numa universidade de New England com historial de racismo, em "Nanny" de Nikyatu Jusu, com Anna Diop e Michelle Monaghan, o caso de uma ama senegalesa indocumentada que trabalha para um casal de classe alta em Nova Iorque, e em "Emergency", fição de Carey Williams onde um grupo de amigos e estudantes de origem latina e africana decidem se devem chamar a polícia e os bombeiros após encontrarem uma rapariga branca desmaiada.

Os direitos da mulher são o tema em "O Acontecimento", filme francês de Audrey Diwan, relata o drama de uma jovem que decide interromper uma gravidez nos anos 60, e em "Call Jane", onde Phyllis Nagy, argumentista de "Carol", se estreia na realização com Elizabeth Banks a dar corpo a uma narrativa parcialmente inspirada no Jane Collective, uma rede clandestina que ajudou centenas de mulheres a abortar na área de Chicago entre 1968 e 1972. O trabalho desse grupo é abordado de forma mais próxima da realidade no documentário "The Janes", de Tia Lessin, antiga produtora dos filmes de Michael Moore.

A programação completa está disponível no site do festival.