Publicado em 16 Dez. 2012 às 20:25, por Samuel Andrade, em Notícias de cinema (Temas: Temporada de prémios, Cinema Norte-Americano)
A polémica em torno do novo filme de Kathryn Bigelow está acesa, mas não o impede de ser o filme mais premiado da presente temporada de prémios de cinema.
"Política e moralmente repreensível", ou "validação do papel da tortura entre as forças armadas norte-americanas" e ainda "glorificação da tortura" são algumas das reações que "00:30 A Hora Negra" (Zero Dark Thirty) tem recebido nas últimas semanas por parte de quem já assistiu ao filme que narra os desenvolvimentos que levaram à captura de Osama Bin Laden.
"00:30 A Hora Negra", realizado por Kathryn Bigelow, tem conquistado honras de melhor filme junto de várias associações de crítica norte-americana e é um dos principais candidatos à vitória na próxima cerimónia dos Oscars. Mas tem somado, também, imensa controvérsia devido à forma como apresenta a tortura enquanto ferramenta essencial para os serviços de informação militar dos Estados Unidos da América.
Numa sequência inicial do filme, a agente da CIA interpretada por Jessica Chastain (também ela grande candidata ao Oscar de Melhor Atriz) assiste ao interrogatório de um prisioneiro árabe, o qual revelará, após ser submetido a diversas torturas físicas e psicológicas, a identidade de um colaborador de Bin Laden. São sequências como esta que estão na origem da polémica em torno do filme de Bigelow, pois parecem legitimar a tortura enquanto tratamento indispensável e necessário em nome da segurança nacional norte-americana.
No entanto, os apoiantes de "00:30 A Hora Negra" sublinham o facto de se tratar de um filme de ficção, onde são permitidas liberdades criativas, mesmo que o argumento (alegadamente escrito com o apoio dos próprios Navy Seals) se baseie em acontecimentos verídicos.
Curiosamente, maior parte dos defensores do filme são, na sua maioria, críticos de cinema. Para além dos prémios arrecadados, "00:30 A Hora Negra" tem sido presenteado com alguns dos textos mais positivos do ano que destacam a fabulosa atmosfera de thriller, o potencial do filme para suscitar o debate moral e o respeito pela inteligência do espetador numa obra que, na sua abordagem semijornalística, invoca títulos como "Os Homens do Presidente" ou "Voo 93".
O público português terá a possibilidade de avaliar a atual controvérsia em torno de "00:30 A Hora Negra" quando o filme estrear por cá a 17 de janeiro próximo. Porque se já sabíamos que a polémica vende, parece que com Kathryn Bigelow também é sinónimo de prémios e apreciação crítica.