Cartaz de cinema

Produtor de "Fear the Walking Dead" fala sobre a nova temporada da série

Publicado em 4 Mar. 2016 às 17:06, por filmSPOT, em Notícias de televisão e séries

Produtor de "Fear the Walking Dead" fala sobre a nova temporada da série

Os primeiros detalhes da segunda temporada são revelados numa entrevista do produtor executivo Dave Erickson.

Com a aproximação da data de estreia da segunda temporada de "Fear the Walking Dead", a AMC Global divulgou sexta-feira uma entrevista exclusiva com o produtor executivo e showrunner, Dave Erickson.

Abordando o desenvolvimento dramático da série e algumas cenas da nova temporada passada no oceano, os detalhes de Erickson sobre esta produção sediada no México são revelados juntamente com o novo poster da série.

"Fear the Walking Dead" é protagonizado por Kim Dickens (Madison), Cliff Curtis (Travis), Frank Dillane (Nick), Alycia Debnam-Carey (Alicia), Ruben Blades (Daniel), Mercedes Mason (Ofelia), Lorenzo James Henrie (Chris) e Colman Domingo (Strand).

A segunda temporada desta série da AMC está a ser produzida nos Baja Studios do México, sede de algumas das maiores produções cinematográficas dos últimos anos. Conta com 15 episódios divididos em duas partes e começa com os sete primeiros episódios a estrear em abril e os restantes oito no decorrer de 2016.

A primeira temporada terminou com Madison, Travis e o resto da família a ocupar o abrigo temporário do Strand com vista para o Oceano Pacifico. Enquanto a agitação civil crescia e os mortos dominavam Los Angeles, Strand preparava a fuga no "Abigail," o seu grande iate.

Fear The Walking Dead 2

Na entrevista que se segue, Dave Erickson revela detalhes inéditos da segunda temporada.

Pergunta: Em que é que "Fear the Walking Dead" se distingue de "The Walking Dead" e é possível ficar viciado em "Fear" sem ter visto "The Walking Dead"?

Dave Erickson: É realmente fácil, e não é necessário saber nada sobre o "The Walking Dead" para ficar viciado em "Fear". Após falar com muitas pessoas –  atores, produtores e alguns espectadores – todos concordam que a forma como nos aproximamos da história significa que não necessitamos de qualquer conhecimento prévio da outra série. Estruturamos a série de tal forma que se for fã do grafismo original da narrativa e acompanhar "The Walking Dead", reconhecerá imediatamente a mitologia e verá como as histórias se encadeiam. Contudo, irá apreciar a abordagem diferente e o ponto de vista distinto de "Fear".

Na primeira temporada abordamos a ideia de que estávamos a cobrir o período em que Rick Grimes esteve em coma.  Os espectadores tiveram um vislumbre daquilo que ele perdeu. Nos primeiros episódios, partimos da tomada de consciência das personagens, da perceção de que as coisas se estavam a desmoronar e de que o mundo estava a mudar até à chegada da Guarda Nacional e até ficarem encurralados num campo de concentração. Acreditavam que a situação no mundo exterior estava a ser resolvida. Só no final se perceberam como as coisas estavam a desmoronar-se profundamente.

Isso é que é extraordinário na segunda temporada: a bolha rebentou! Eles passaram de um aparente estado de segurança proporcionado pelos militares, para o confronto com a desolação e a destruição à sua volta. Portanto, o esta família terá de interiorizar o quão mal estão as coisas. Até que ponto se disseminou? É algo que está a dominar o país? O mundo? Isso coloca-os numa posição realmente interessante obrigando-os a aprender bastante sobre cada um deles e sobre a sua natureza, sobre o que estão preparados para fazer se as coisas avançarem de mal para pior – mas, até onde conseguirão ir para o colocar em prática?

Pergunta: Todas as famílias tiveram perdas terríveis na primeira temporada. Isto vai uni-las na segunda temporada e ajuda-las a perceber como poderão sobreviver?

Dave Erickson: Bom, isso é interessante porque uma das coisas importantes para Robert Kirkman quando começamos a desenvolver o drama era o tema da violência e como cada uma dos personagens a iria viver. E não me refiro apenas à "morte" dos infetados mas à forma como cada personagem reage quando é obrigada a abater alguém.

No fim da primeira temporada enfrentaram um bando de zombies e a maior parte (com a exceção de Travis, Chris e Alycia) tiveram de lutar com um dos infetados e abatê-lo. Isso levanta a questão dos efeitos da violência e da ética de cada um – como irão processar tudo à medida que avançamos na segunda temporada?

Eles testemunharam ainda a queda de Los Angeles. As cenas em que viajam por uma LA desolada, abandonada e morta significam que deixaram a sua casa para trás. Perderam a casa, os amigos, os vizinhos e isso é catastrófico. Inicialmente, estão todos muito fechados e chocados, depois trata-se mais da relação que desenvolvem entre si, e claro, do seu relacionamento com a violência.

Agora, na segunda temporada, estão no barco do Strand, no "Abigail", e penso que se aperceberão rapidamente e à medida que avançam os primeiros episódios, que não foram as únicas pessoas com esta ideia brilhante. Não são os únicos que decidiram tornar-se refugiados de Los Angeles e aproveitar refúgio na água. Isso irá criar conflitos adicionais. Irá ter duas implicações: o que farão quando forem confrontados com infetados e o que farão quando confrontarem outros sobreviventes? Como será esta aproximação e onde reside o grande perigo?

Pergunta: Strand disse no final da primeira temporada: "A única forma de sobreviver a um mundo de mal é abraçar essa maldade." Como é que isto se reflete na segunda temporada?

Dave Erickson: Creio que o grande tema da segunda temporada de "Fear" é que uma vez que se estabeleceu que o mundo realmente acabou, uma vez que se percebeu que não havia retorno, em que tipo de pessoa é que cada um dos personagens se tornará? Serão capazes de se render a isso? Serão devorados e consumidos pelo apocalipse, ou mudarão a sua natureza? Conseguirão continuar a lutar e a manter a sua humanidade?  

Isto foi algo que iniciámos na primeira temporada, especificamente com Travis, e penso que continuaremos a vê-lo na segunda temporada. Uma das questões que a Liza e a Madison levantaram sobre o Travis foi que se ele tivesse que abater uma delas, isso iria destroçá-lo. Penso que um dos temas mais interessantes desta temporada é saber se esse ato faz dele um homem destroçado, ou se será capaz de aguentar, não apenas por si, mas principalmente pela Chris, que perdeu a mãe.

Na segunda temporada assistimos a um renascimento frágil, mas violento, e penso que será possível ver elementos dessa "maldade" em vários personagens - Nick, Travis, Daniel.

Pergunta: Falando em Daniel Salazar (interpretado por Ruben Blades), havia alguns momentos negros sobre o seu passado na primeira temporada. Haverá algo mais sobre isto desvendado na segunda temporada e como irá afetar a sua relação com a filha Ofelia (interpretada por Mercedes Mason)?

David Erickson: Na primeira temporada, percebemos que Daniel não era, definitivamente, um barbeiro humilde. A verdade é que cometeu atrocidades, alguns atos verdadeiramente violentos, no passado. A sua mulher Griselda sabia. Não conhecia exatamente de todos os detalhes, mas sabia. No entanto, estava disposta a apoiá-lo e a absolvê-lo, mas agora partiu.

Ofélia, a filha, acaba de tomar conhecimento deste lado do pai e faz o seu próprio julgamento. Passou grande parte da vida a proteger os pais imigrantes, sentindo que estavam um pouco atrasados, que eram do "velho mundo" e que lutavam para adaptar as suas vidas aos Estados Unidos. Dedicou muita energia e tempo a tentar tomar conta deles e agora acaba por aperceber-se de que eram bem mais capazes do que alguma vez pensou. Também se apercebeu de que não fazia nenhuma ideia de quem os pais eram realmente, ou quem é, de facto, o seu pai agora. Está a tentar descobrir, enquanto ele procura conseguir, da parte dela, alguma espécie de redenção e perdão. Ela olha para o pai e para o que aconteceu à mãe e encara os pecados do pai. Emocionalmente, na segunda temporada, há uma quantidade enorme de situações a acontecer nesta família.

Fear The Walking Dead 2

Pergunta: Há uma revelação de Nick (interpretado por Frank Dillane) no final da primeira temporada em que admite viver no seu próprio apocalipse como toxicodependente e que as outras pessoas estão agora a começar a aperceber-se. Qual a importância deste facto no desenvolvimento da personagem na segunda temporada?

Dave Erickson: É uma grande parte do seu desenvolvimento. No final da última temporada, Nick tem, essencialmente, um momento de clareza. Vê o mundo a desmoronar-se e pela primeira vez está livre de drogas. Apercebe-se de que é alguém que deveria ter morrido várias vezes na sua vida anterior e agora tem de perguntar a si próprio como e porque sobreviveu.

Julgo que o Nick possui um certo sentido de temor e fascínio. Está realmente intrigado sobre aquilo que se passa à sua volta, sobretudo com os mortos e com esta ideia de ter recebido uma segunda oportunidade neste mundo. Por ser mais apto a viver à margem, sente-se mais confortável neste novo mundo. É uma oportunidade de olhar o apocalipse através de um filtro que não vemos em mais lado nenhum. Ele teve uma experiência diferente sobre a pressão para sobreviver e agora tem um ponto de vista muito diferente.

Pergunta: Os infetados em "Fear" estão num estado menos deteriorado do que os zombies em "Walking Dead". Como é que isto afeta a forma das personagens reagirem a eles?

Dave Erickson: Bem, nós vamos mais à frente na segunda temporada, por isso já se deterioraram e atrofiaram um pouco mais. Existem também outros factos e elementos. Estamos em água salgada no oceano e debaixo de um sol abrasador. Por isso, assistem a uma progressão no seu aspeto, mas, fundamentalmente, eles acabaram de se tornar os infetados e é muito difícil abater algum deles. Emocionalmente, isso tem o seu preço. Na verdade, estamos a humanizar a morte, e queremos continuar a mostrar o peso e a pressão das nossas personagens quando elas despacham estas "pessoas".

Algumas das nossas personagens continuam a querer reconhecer os infetados como tendo ainda algum grau de humanidade e talvez alguma inteligência ou compreensão. Tivemos a primeira horda de zombies no final da última temporada e teremos mais infetados nesta temporada. No entanto, ainda queremos manter a ideia estabelecida por Robert, de que não queremos que os mortos se tornem apenas "carne para canhão". Acho que isso acrescenta uma perspetiva real para a história que queremos explorar. Por isso, mesmo que pareçam mais deteriorados, queremos manter as suas qualidades humanas.

Pergunta: Porque é tão importante que os infetados não se tornem apenas "carne para canhão"?

Dave Erickson: O que é realmente interessante é ser possível projetar ansiedades, fobias, ou algum outro medo nos mortos-vivos. No caso dos zombies, isto permite que tenhas a possibilidade de matar os teus medos. Acho mesmo que existe aqui uma espécie de catarse, na medida em que possibilita que termines, de forma permanente, com todas as coisas que odeias e tudo aquilo que te mantém acordado durante a noite.

Acho ainda que queremos evitar uma situação em que tenhamos apenas infetados a serem exterminados sem real impacto nas personagens. Fundamentalmente, tem de estar a acontecer algo do ponto de vista emocional. Sempre que haja algum tipo de interação com os mortos, queremos assegurar-nos de que existe um propósito, ou serve para desenvolver algum aspeto da personagem para avançar a narrativa. A violência deve prejudicar tanto as personagens que a estão a cometer, como os infetados que estão a ser atacados.

Fear The Walking Dead 2

Pergunta: Como foi filmar no México?

Dave Erickson: Bem, temos uma equipa em parte americana, ao lado de técnicos e artistas que vieram da Cidade do México, e vários colegas que estão a trabalhar localmente, em Baja. Foi uma produção gigante e, tanto quanto me lembro, em televisão, nunca foi feito nada antes com esta dimensão. Era um terreno novo para todos nós, argumentistas, realizadores, para todos os produtores e envolvidos. É, de facto, um sentimento muito compensador constatar que vamos dar à audiência uma experiência que nunca teve antes.

"Fear" é de facto uma série muito diversa e isso é extremamente importante para nós. Quando filmámos em Los Angeles, na zona Este de L.A., explorámos locais nas redondezas que não aparecem frequentemente em televisão ou em filmes. No México, continuámos o mesmo registo. Tem sido fantástico poder trabalhar com realizadores mexicanos, argumentistas, artesãos e Bernardo Trujillo, o nosso designer de produção, baseado na Cidade do México tem sido extraordinário com a sua energia única e inestimável perspetiva.    

Acho que a diversidade está profundamente presente em toda a série. Temos um elenco incrível e uma equipa diversificada e isso, além de nos dar uma perspetiva fantástica, contribui para conseguir uma série muito rica.

Pergunta: Há mais alguma coisa que queira partilhar com os fãs sobre a nova temporada?

Dave Erickson: Acho que a questão mais intrigante é: todos sabemos que vamos estar num barco porque vimos isso no final da última temporada mas… para onde vão as personagens?

Penso que rapidamente perceberemos que o oceano não é mais seguro do que a terra e de que existe um diferente nível de adversidade e ameaça no mar. Isso força as personagens a focarem-se num destino. Mas qual será? A norte de Vancouver, ou a sul do Cabo? Estamos a falar de um barco que tem uma capacidade incrível e um tanque cheio de gasolina. Podem poderiam sair do Pacífico, percorrer mais de três mil milhas de distância, ou até chegar ao Hawai. Podíamos até terminar com zombies no paraíso! (Risos).

Esta é a questão intrigante dos primeiros episódios da nova temporada, que porto vão as personagens encontrar, como chegam até lá e se será seguro ou não?

A segunda temporada de "Fear the Walking Dead" estreia segunda-feira, 11 de abril, às 22h10 no canal AMC.