Publicado em 24 Jan. 2023 às 11:50, por Pedro Sesinando, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: O Espírito da Colmeia)
Filipe Melo e Adriano Luz falam sobre a curta "O Lobo Solitário", um dos três filmes portugueses que chegaram à última shortlist antes das nomeações para os Óscares.
Uma imagem partilhada pelo realizador Filipe Melo durante uma sessão de perguntas e respostas de apresentação da sua curta metragem "O Lobo Solitário", pré-seleccionado para os Oscars, foi particularmente feliz na descrição da atmosfera que paira sobre o filme.
Dizia Filipe Melo que idealizou a câmara num rondar constante sobre Vitor - o protagonista, encarnado por Adriano Luz – recriando a forma como um tubarão rondaria uma potencial presa em mar alto.
De facto, se há sentimento que domina a narrativa durante os aproximados trinta minutos que dura "O Lobo Solitário" é aquele de um homem encurralado, sem outra escapatória que a admissão dos seus pecados.
Para esta ausência de tréguas, que se estende da personagem principal ao próprio espectador, muito contribui a opção pelo plano sequência único, que Filipe Melo usa habilmente para gerir os níveis de tensão.
A narrativa constrói-se em redor de Vítor, que conduz um programa nocturno numa rádio local e que funciona numa lógica de divã de psicanalista com a sua carteira de ouvintes habituais.
De entre este ambiente plácido e familiar, emerge o telefonema do ouvinte misterioso que irá desenterrar o passado de Vitor, alterando o tom do filme, de pequena comédia de costumes para um thriller.
Estas circunstâncias iniciais possibilitam o cenário ideal para Filipe Melo "explorar um dos leitmotivs do filme", nas suas próprias palavras, e interpretar a forma como a opinião pública reage a uma revelação incómoda sobre uma figura que admiram e que consideram conhecer.
Reside aqui o grande mérito de "O Lobo Solitário", a forma como percorre um carrossel de emoções sem se precipitar ou recorrer a artifícios narrativos. Para tal é decisiva a presença de um actor da dimensão de Adriano Luz, capaz de nos fazer duvidar que perante Vitor estamos diante de um "negacionista", nas palavras do próprio actor - um mitómano em negação de um lado sombrio.