Cartaz de cinema

Estreia de "Matrix Resurrections" no streaming azeda relação dos produtores com a Warner

Publicado em 8 Fev. 2022 às 11:17, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica, Cinema Norte-Americano, Box office)

Estreia de "Matrix Resurrections" no streaming azeda relação dos produtores com a Warner

Em causa está uma queixa da Village Roadshow relativa à estreia simultânea do filme nas salas de cinema e na HBO Max.

A estreia simultânea de "Matrix Resurrections" nos cinemas e no serviço de streaming HBO MAX na América do Norte levou a Village Roadshow Entertainment Group a apresentar queixa em tribunal contra a Warner Bros. por quebra de contrato. A empresa que co-produz os filmes da franquia "Matrix" considera que a estratégia do estúdio levou a quebras consideráveis na receita de bilheteira.

"Matrix Resurrections" estreou a 22 de dezembro. Até ao momento soma 37,4 milhões de dólares em receita bruta de bilheteira nos cinemas norte-americanos, apenas 24% do total global que, ao dia de hoje, ascende a 153,6 milhões de dólares. O custo estimado de produção é de 190 milhões.

A Village Roadshow compara este resultado, muito abaixo do conseguido pelos filmes anteriores, com outra estreia que ocorreu quase ao mesmo tempo: "Homem-Aranha: Sem Volta a Casa" chegou em exclusivo às salas e soma até agora 750 milhões de dólares só no box office dos EUA e Canadá.

Do processo que deu entrada num tribunal de Los Angeles consta o argumento de que a Warner antecipou deliberadamente a data de estreia do filme de forma a integrar o pacote de lançamentos simultâneos cinema e streaming praticados em 2021, por oposição ao plano de 2022 onde as salas de cinema têm garantida uma janela de exclusividade de 45 dias.

Segundo consta da queixa, citada pelo Wall Street Journal:

O único objectivo da WB ao antecipar a data de lançamento de "Matrix Resurrections" foi criar uma vaga de subscrições de final de ano desesperadamente necessária da HBO Max com a ajuda do que sabia ser um blockbuster, consciente de que iria dizimar as receitas de bilheteira do filme e privar a Village Roadshow da vantagem económica de que a WB e as suas afiliadas usufruiriam, especialmente em comparação com um lançamento exclusivo nos cinemas em 2022.

A Warner considera que o caso deve ser resolvido através do mecanismo de arbitragem previsto nos contratos e, segundo o mesmo meio, respondeu da seguinte forma:

Esta é uma tentativa frívola da Village Roadshow para evitar o seu compromisso contratual de participar na arbitragem que iniciámos na semana passada. Não temos dúvidas de que este caso será resolvido a nosso favor.

A suspensão das atividades devido à pandemia, tanto na produção como na distribuição e exibição de filmes nos cinemas, coincidiu com o crescimento e aumento da concorrência nos serviços de streaming que disponibilizam conteúdos através da Internet, diretamente ao consumidor. O terramoto resultante no modelo de negócio tradicional coloca em risco parte da compensação financeira de produtores, cineastas, autores e técnicos, indexada às receitas da bilheteira.

No verão, Scarlett Johansson pediu 80 milhões de dólares à Disney por causa da estreia simultânea de "Black Widow" na Disney+. Em finais de setembro, as duas partes chegaram a acordo por valores não divulgados.

Em 2021, a Warner surpreendeu ao anunciar que o seu alinhamento anual de 17 filmes estaria disponível na HBO Max, no mesmo dia da estreia nos cinemas. Após uma onda de protestos dos seus parceiros, a empresa terá acabado por desembolsar mais de 200 milhões de dólares em compensações, segundo a imprensa norte-americana.

A Village Roadshow alega que "Matrix Resurrections" não integrou esse pacote de contrapartidas e acrescenta que a disponibilização do filme online tornou-o vítima de "pirataria desenfreada", uma queixa que tem sido ouvida frequentemente noutros casos. Mais ainda, acusa a Warner de ter desvalorizado a marca "Matrix".

Os desentendimentos entre as duas partes estendem-se a projetos vindouros, como "Wonka", a prequela de "Charlie e a Fábrica de Chocolate", ou a série de televisão baseada em "No Limite do Amanhã", o sucesso de ficção científica de 2014 protagonizado por Tom Cruise e Emily Blunt. Alegadamente, a Warner tem apresentado entraves a receber a Village Roadshow como parceira nestas produções - apesar desta esgrimir os direitos contratuais baseados nos filmes anteriores.

Ao longo de 25 anos de parceria, a Village Roadwhow terá pago mais de 4,5 mil milhões de dólares à WB para a produção e distribuição de 91 longas-metragens de que fazem parte, além da franquia "Matrix", títulos como "Joker", ou "Ocean's Eleven" e respetivas sequelas.