Publicado em 13 Mai. 2020 às 17:16, por Samuel Andrade, em Opinião (Temas: Síndrome do Vinagre)
O drama musical para televisão nascido da mente de Damien Chazelle e Jack Thorne foi integralmente rodado em película.
Disponível no catálogo da Netflix Portugal desde 8 de maio, "The Eddy" é, entre outras particularidades, o produto da colaboração criativa de Jack Thorne (argumentista de séries como "Skins", "Glue" ou "His Dark Materials") e Damien Chazelle (realizador de "La La Land – Melodia de Amor"), os quais idealizaram um drama musical em oito episódios, ambientado no 12º arrondissement de Paris e centrado nos problemas pessoais e financeiros, do proprietário de um clube de jazz.
Contudo, "The Eddy" destaca-se, no seio da variada oferta que o pequeno ecrã tem proporcionado por estes dias, num importante pormenor da sua produção: do primeiro ao último minuto, a série é integralmente rodada em película de 16mm, um dos formatos analógicos de filme mais populares de sempre.
Esta opção estética, por parte de Damien Chazelle (que assina os dois primeiros episódios da série) e dos diretores de fotografia Eric Gautier e Julien Poupard, não só confere a "The Eddy" um visual austero, sórdido e de registo quase documental, como remete o espectador para algumas das principais inspirações cinematográficas dos seus criadores – a saber, títulos como "A Morte de Um Apostador Chinês" (realizado por John Cassavetes em 1976), "Os Cavaleiros do Asfalto" (1973, de Martin Scorsese), ou os filmes franceses da Nouvelle Vague da década de 60.
O Diretor de Fotografia Eric Gautier exibe a sua câmera de 16mm durante as filmagens da série "The Eddy".
Todas estas intenções transformam "The Eddy" num produto artística e visualmente único – sendo quase de lamentar o facto de só o podermos observar no pequeno ecrã... Comparativamente a outros títulos recentes de televisão, a série apenas encontra semelhanças com "Westworld", da HBO, inteiramente rodada em película de 35mm (ou seja, num formato habitualmente utilizado em produções para cinema), ou com alguns episódios das mais recentes temporadas de "American Horror Story" (Fox), nos quais foi possível assistir a um cocktail – do 8mm ao 35mm – de formatos analógicos.
Em conclusão, nada melhor do que citar o próprio diretor de fotografia Eric Gautier, na entrevista que concedeu ao site oficial da Kodak, para compreendermos melhor as razões da escolha pelo 16mm em "The Eddy":
A textura que advém do grão da película dá vida à imagem, tornando-a cativante independentemente do ecrã onde é vista. Para além disso, uma rodagem em película motiva todos a darem o seu melhor, sobretudo os atores, e julgo que é visível como os músicos vibraram com o facto de estarmos a filmar em película.