Publicado em 15 Jun. 2021 às 10:54, por António Quintas, em Opinião, Notícias de cinema
A primeira grande produção norte-americana lançada nas salas de cinema na era COVID chega esta semana às televisões.
Era uma vez uma pandemia. Durante essa pandemia os cinemas fecharam, voltaram a abrir e voltaram a fechar. Houve muita discussão sobre as estreias em sala. O streaming ameaçou um modelo de negócio tradicional ao lançar filmes como se fossem rolos de palha e os estúdios pensaram. Pensaram, e pensaram. E enquanto pensavam adiaram, adiaram e voltaram a adiar.
Alguns decidiram mudar todos os filmes para o novo brinquedo e atrair subscritores com cenouras de cento e muitos milhões de dólares, mantendo os resultados da manobra em absoluto segredo. Outros, recordaram o sábio Rei Salomão e dividiram os seus bebés entre as salas e a Internet. As janelas temporais de exclusividade foram quebradas. Adeus, meses em que um filme só podia ser exibido nos cinemas.
Houve vasto ranger de dentes e bastantes vestes rasgadas na trincheira dos exibidores. Não só estavam impedidos de comercializar as tradicionais viandas com que alimentavam os seus cofres e espalhavam doenças coronárias pelos espectadores, como também lhes retiravam o isco para vender pipocas a que alguns teimam chamar "filme".
Entre receios e hesitações, no curto oásis epidémico que foi o verão de 2020, Christopher Nolan e a Warner Bros. decidiram dar um passo em frente no abismo. "Tenet" foi a cobaia, a primeira grande produção de Hollywood a chegar às salas desde a entrada em cena do SARS-CoV-2. O mundo susteve a respiração.
Protagonizado por John David Washington (BlacKkKlansman), o filme é uma viagem de inversão no tempo no mundo sombrio da espionagem internacional, numa luta pela sobrevivência com o objetivo de impedir uma 3.ª Guerra Mundial e salvar a humanidade.
Algumas más línguas afirmaram que o filme era confuso. Que não se percebia nada! Outras recearam a ida ao cinema não fossem apanhar a moléstia. No meio da confusão e do receio da pestilência, "Tenet" lá fez o seu caminho. Após a estreia inicial em finais de agosto e inícios de setembro de 2020, primeiro na Europa, depois na Ásia, mais tarde nos Estados Unidos, foi sendo exibido onde e quando o vírus permitia.
A aposta não correu mal tendo em conta as limitações. Até agora, soma 364 milhões de dólares em receita bruta mundial de bilheteira (109 milhões da Europa, 66 milhões da China, 58 milhões da América do Norte e 25 milhões do Japão).
Tendo custado uns 200 milhões, ainda não está pago (é preciso não esquecer que as receitas obtidas nas salas são repartidas com os exibidores), mas com as vendas secundárias para televisão e streaming é quase certo que chegará a dar lucro.
"Tenet", o blockbuster da pandemia, estreia no TVCine, a 18 de junho.