Publicado em 24 Nov. 2022 às 16:11, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Obituário, Cinema Português)
O produtor e realizador de cinema morreu quarta-feira num hospital em Lisboa.
António da Cunha Telles, realizador e produtor, nome fundador do movimento a que se daria o nome de Cinema Novo português, nos anos 60 do século XX, morreu quarta-feira num hospital em Lisboa. Tinha 87 anos.
Natural do Funchal, onde deu os primeiros passos no cinema, desviou-se do curso de Medicina para seguir a sua paixão maior.
Estudou em Paris com bolsa da Gulbenkian. No Institut d'Hautes Études Cinematographiques, cruzou-se com Paulo Rocha, um encontro decisivo na mudança que trespassaria o cinema português nos anos seguintes.
Foi Cunha Telles que produziu o primeiro filme de Rocha, "Os Verdes Anos", em 1963. Protagonizado por Isabel Ruth e Rui Gomes, com música de Carlos Paredes, seria o pontapé na apatia que acanhava a sétima arte nacional. Como em muitos outros países, recolheram inspiração nos ventos que vinham da Nouvelle Vague francesa pela mão de Godard, Truffaut e companhia. Seguir-se-ia "Belarmino" (1964), de Fernando Lopes, o segundo momento fundador do Cinema Novo.
Em 1970, assolado por uma das cíclicas faltas de dinheiro que o acompanharam ao longo da carreira, Cunha Telles estreia-se na realização com "O Cerco", drama passado na alta burguesia lisboeta que viria a estrear na Quinzena dos Realizadores em Cannes.
Pouco antes do 25 de Abril, em 1973, funda a distribuidora de cinema Animatógrafo, responsável por trazer a Portugal clássicos de nomes incontornáveis como Sergei Eisenstein, Jean Renoir, ou Jean Vigo, e autores das novas cinematografias mundiais como Nagisa Oshima, Alain Tanner, ou Glauber Rocha. Foi também produtor associado em filmes como "Angústia" (1964), de François Truffaut, "O barbeiro da Sibéria" (1998), de Nikita Mikhalkov, "Belle Époque" (1992), de Fernando Trueba, e "A filha de D'Artagnan" (1994), de Bertrand Tavernier, parcialmente rodados em Portugal.
Voltaria em força já na década de 1980 com produções como "O Bobo" (1982), de José Álvaro de Morais, "Balada da Praia dos Cães" (1986), de José Fonseca e Costa, "O Fio do Horizonte" (1993), de Fernando Lopes, "Aqui na Terra" (1993), de João Botelho, e "Terra Sonâmbula" (2006), de Teresa Prata.
Voltou à realização em "Vidas" (1984), "Pandora (1996) e "Kiss Me" (2004). Praticamente concluído, mas ainda por estrear, deixou o filme "Cherchez la femme", a partir de um texto literário de Mário de Sá-Carneiro.
Em 2018, foi agraciado pela Presidência da República com o grau de Grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique por serviços relevantes prestados ao país.