México acusado de pagar 20 milhões de dólares a James Bond

O México terá concordado em atribuir 20 milhões de dólares em incentivos fiscais à MGM e Sony Pictures caso os estúdios alterassem o argumento do filme "007: Spectre" para mostrar o país de forma positiva.

A notícia é do site Tax Analysts que cita um e-mail obtido após o escândalo Sony Leaks. 

No final de 2014, piratas informáticos ainda por identificar, mas que as autoridades norte-americanas acreditam estarem ligados, ou ao serviço, dos norte-coreanos, penetraram no sistema informático da Sony Pictures e obtiveram uma larga quantidade de informação confidencial.

A produção do filme receberá entre 14 e 20 milhões de dólares em incentivos fiscais por parte do governo local.

Este mecanismo é frequentemente usado pelos estúdios de forma a reduzir os elevados custos de um sucesso de bilheteira a nível planetário. O custo estimado de produção para "007: Spectre" ronda os 300 milhões de dólares.

Normalmente, os termos destes acordos limitam-se à obrigatoriedade de contratar uma  percentagem de trabalhadores, técnicos e atores locais, como meio de estimular a indústria cinematográfica local e à cobrança de taxas para a utilização de locais.

Neste caso, o país envolvido exigiu alterações tanto no guião como no elenco, uma prática a que, até agora, só a ditadura chinesa conseguira obrigar os estúdios a obedecer.

O e-mail da Sony Pictures que refere os pedidos mexicanos tem como título "Considerações para cortes". No documento, o presidente da divisão de cinema da MGM enumera as condições das autoridades locais para atribuição dos incentivos fiscais:

• mostrar edifícios modernos na cidade

• apresentar a polícia mexicana como uma "força especial"

• que o alvo de assassinato incluido no guião passe a ser um embaixador de outra nação e não o mayor da capital mexicana.

• inclusão de uma atriz mexicana como Bond girl (Stephanie Sigman, protagonista do thriller "Miss Bala" faz parte do elenco como dona do hotel onde 007 fica instalado)

• que o vilão não seja mexicano

Com estas exigências, o México alegadamente procura afastar a imagem de país assolado pelo crime e violência que surgiu na sequência da feroz guerra aos cartéis do narcotráfico.

Luis Miguel Aguilar, da Comissão de Filmagens do Distrito Federal, organismo responsável por coordenar todos os aspetos da rodagem do lado mexicano, citado pelo jornal mexicano Informador, diz não acreditar no chamado "suborno a James Bond": "Não tenho qualquer prova de que tenha sucedido e acho complicado que seja verdade. Em primeiro lugar porque o guião não está disponível para ninguém, a produção é muito cuidadosa a esse nível e nas reuniões que tivemos desde 2014 só nos informaram da parte que nos cabe. Parece-me arriscado tentar impor esse tipo de condições."

A produção de "007: Spectre" estará este mês a filmar na Cidade do México, após ter passado pelo Alpes austríacos e por Itália.

Entre os locais escolhidos, o mesmo jornal destaca a antiga sede do senado e o centro histórico da capital.

A estreia do filme está prevista para novembro próximo.