Cartaz de cinema

IndieLisboa 2023 apresenta programação

Publicado em 12 Abr. 2023 às 18:01, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema)

IndieLisboa 2023 apresenta programação

Este ano celebram-se os 20 anos do festival com um número recorde de 314 filmes.

O IndieLisboa revelou hoje o programa completo da edição em que se comemora o vigésimo aniversário do festival. Com um número recorde de 314 filmes, acrescenta aos espaços habituais o Cinema Fernando Lopes, na Universidade Lusófona, e a Piscina da Penha de França onde decorrerá uma inédita sessão dentro de água com curtas para crianças.

A Competição Internacional reúne 12 longas e 29 curtas onde se assinala a estreia nacional de "After", de Anthony Lapia, que acompanha as interacções numa rave e a forma como é celebrado este novo mundo temporário. "Rodeo", primeira obra de Lola Quivoron, também se centra em pequenos grupos à margem da sociedade. A protagonista, Júlia encontra o escape nas motos e no mundo dos rodeos urbanos, eventos ilegais onde os motards exibem acrobacias.

O galego Lois Patiño regressa com "Samsara". Todos os dias um adolescente budista lê passagens do Livro Tibetano dos Mortos a uma idosa. No último dia, sussurra as passagens finais ao ouvido da mulher, fecha os olhos e embarca numa viagem para o que está mais além. Ali Cherri, também está de volta ao Indie, desta feita com a sua primeira longa, "Le Barrage". No Sudão, Maher trabalha numa fábrica de tijolos alimentada pelas águas do Nilo. Todas as noites, vagueia secretamente pelo deserto para construir uma misteriosa estrutura feita de lama.

"Safe Place", do croata Juraj Lerotić, parte de uma tentativa de suicídio para explorar as suas consequências na vida quotidiana de uma família. O documentário "Vermelho Bruto", de Amanda Devulsky, acompanha as vidas de quatro mulheres que ainda eram adolescentes quando se tornaram mães, durante a redemocratização do Brasil, na década de 1985-1995.

Nas curtas, os temas variam de nichos de cultura online, como os incels de "Mechanics of Fluids", os cam-boys em "Alpha Kings", o machine-learning em "Backflip" – até aos projectos políticos, como a comunidade educativa anarquista Universidade Tolstoy, em "Growing Up Absurd", e "Black Mousse", sobre a Feira Internacional de Tripoli, projectada por Oscar Niemeyer nos anos 60.

A competição Nacional inclui seis longas, 3 médias e 16 curtas metragens, entre regressos e estreantes.

Em "Astrakan 79", de Catarina Mourão, um homem de meia idade recorda a estadia de um ano e meio na União Soviética, em 1979. Enviado pelos pais, militantes do Partido Comunista.

Vencedora do prémio para a Melhor Longa-Metragem Portuguesa no IndieLisboa 2021, com "No Táxi do Jack", Susana Nobre regressa com "Cidade Rabat", uma comédia melancólica sobre Helena, que aos quarenta anos se sente presa entre as responsabilidades familiares e a burocracia do trabalho enquanto produtora de cinema.

Telmo Churro estreia-se nas longas-metragens com "Índia", sobre a relação entre três gerações de homens (Tiago e o seu pai, Raul, e o seu filho, Manuel) e Karen, a melancólica turista brasileira que escreve cartas para o falecido marido.

A ideia de que "Portugal não é um país racista" é explorada por Marta Pessoa em "Rosinha e Outros Bichos do Mato", a história da habitante da Guiné exibida na exposição colonial de 1934 que trouxe aos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, a recriação das aldeias indígenas e "exemplares" dos povos que as habitavam.

"A Primeira Idade", de Alexander David, passa-se numa ilha isolada onde vive uma comunidade agrária autónoma de crianças guiada pelos mais velhos entre eles. Com regras e crenças rigorosas, os adultos são banidos para os bosques circundantes, todos os anos é feita uma cerimónia para o membro mais velho da aldeia - um ritual que acreditam conferir a juventude eterna ao escolhido.

O díptico "Mal Viver" e "Viver Mal", de João Canijo acompanha, por um lado a família que gere um hotel decadente na costa norte de Portugal e a relação entre estas mulheres piora com a chegada da neta. Por outro, os hóspedes do hotel ao longo de um fim de semana.

Entre os títulos a concurso com menor duração destaca-se "Dildotectónica", de Tomás Paula Marques, sobre a criação de uma colecção de dildos de cerâmica que não seja fálica. André Gil Mata regressa ao Indie com "Pátio do Carrasco", adaptação do conto de Franz Kafka sobre dois irmãos e os limites do amor fraterno. "Carmen Troubles", de Vasco Araújo desconstrói o estereótipo da mulher cigana representada na ópera Carmen, de Bizet. Por fim, os gémeos Afonso e Bernardo Rapazote estreiam mundialmente "A Febre de Maria João", drama passado no século XIX e vivido num único espaço de representação, cheio de segredos que o filme desvenda.

Sessões especiais e secção Silvestre

The Eternal Daughter

A secção Silvestre, recupera autores como Alice Diop, Verena Paravel, Lucien Castaing-Taylor, Hong Sang-soo, ou Lawrence Abu Hamdan. O alinhamento junta nomes consagrados com talentos mais jovens e mistura ficção, documentário, cinema experimental e animação. No total são 16 longas e 22 curtas com abordagens e estéticas diversas, mas semelhantes na forma como usam o cinema enquanto ferramenta política e de questionamento social.

"Saint Omer", primeira obra narrativa de Alice Diop, sobre o julgamento de Laurence Coly, acusada de matar a filha de 15 meses, abandonando-a à maré numa praia no norte de França, tem reunido prémios e distinções um pouco por todo o mundo depois da estreia no último Festival de Veneza.

"Here", de Bas Devos, explora uma possível história de amor entre um trabalhador da construção romeno e uma jovem belga-chinesa, a preparar um doutoramento.

Dez anos após vencerem o Grande Prémio de Longa Metragem do IndieLisboa com "Leviathan", a dupla Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel trabalha a qualidade onírica do corpo humano em "De Humani Corporis Fabrica", algures entre o documentário abstracto e o body-horror, com imagens gravadas em oito hospitais franceses.

"Tenéis que Venir a Verla", de Jonás Trueba, acompanha as agruras melancólicas de dois casais amigos que se reencontram, Da Argentina surge "Luminum", de Maximiliano Schonfeld, sobre a relação entre Sílvia e Andrea, mãe e filha que lideram uma equipa de investigação sobre OVNI's e permanecem de guarda perseguindo as luzes sobre o rio Paraná.

Um dos grandes títulos fora de competição da secção Silvestre para 2023, "In the Water, de Hong Sang-soo, joga com as expectativas com um filme íntimo e poético, no qual cada imagem foi cuidadosamente trabalhada, como uma pintura impressionista. O realizador coreano decidiu brincar com as pessoas que o acusam de fazer constantemente o mesmo filme e achou boa ideia desfocar a sua câmara

"Notre Corps" começa por ser observacional antes de se tornar mais pessoal, um filme sobre o que significa viver num corpo feminino. Claire Simon observa uma clínica de ginecologia em Paris, recolhendo cenas de nascimentos, diagnósticos de cancro, consultas sobre endometriose e terapia hormonal para uma mulher trans.

Joanna Hogg também regressa ao festival com "The Eternal Daughter", um dos filmes mais aclamados pela crítica do ano passado. Uma mulher de meia idade e a sua mãe são forçadas a confrontar segredos antigos quando regressam à antiga casa de família, num raro exercício de género para uma realizadora reconhecida pelos dramas minimalistas.

Nas Sessões Especiais, onde se incluem os filmes de abertura e encerramento, destaque para "Orlando, Ma Biographie Politique", de Paul B. Preciado, apresentado no último Festival de Berlim. A partir do clássico de Virginia Woolf, o escritor convertido em realizador convoca um casting com 25 pessoas diferentes, todas trans e não binárias, dos 8 aos 70 anos, para interpretarem Orlando, enquanto narram as suas próprias vidas e ao mesmo tempo questionam: "Quem são os Orlandos contemporâneos?".

"Primeira Obra", de Rui Simões, veterano documentarista que, após 40 anos de tentativas, conseguiu finalmente apoios para uma estreia na ficção, apresenta a história de um jovem investigador luso-descendente que chega a Lisboa de câmara na mão para pesquisar a revolução por cumprir.

Ainda nas sessões especiais, "1976", apresenta a estreia de Manuela Martelli na realização com um film noir chileno que tenta desmontar as sequelas da ditadura explorando os modoso como a classe média chilena lidou com a tomada do poder de Pinochet através da perspectiva duma mulher.

Jovens cineastas e cruzamentos entre filmes música e literatura

O Fim do Mundo

Ainda na edição deste ano do IndieLisboa, a competição Novíssimos, para jovens cineastas que estão a dar os seus primeiros passos no cinema e onde cabem 18 curtas-metragens, algumas realizadas em contexto escolar, outras feitas sem qualquer apoio.

No programa 5L deste ano, designado Cinema-Cidade, resultante da parceria entre o IndieLisboa e o Lisboa 5L, festival de literatura e língua portuguesa promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, celebra-se a faceta multicultural da vida da cidade através de um programa que põe em evidência o urbanismo, o desenraizamento, a tensão e a cumplicidade, a violência e a integração, a aculturação e a afirmação identitária de quem se naturalizou nas margens da cidade. É composto por três longas e quatro curtas onde se destacam "O Fim do Mundo", de Basil da Cunha, vencedor do Prémio de Melhor Longa-metragem Portuguesa no IndieLisboa de 2020; "La Haine", clássico do cinema francês sobre abusos policiais nos bairros pobres de Paris; e "Outros Bairros", documentário sobre os adolescentes de origem africana nascidos em Portugal. Nas curtas, estarão presentes "No'i", de Aline Magrez, "Villeneuve", de Agathe Poche, a animação, "Fest", de Nikita Diakur e "Mistida", de Falcão Nhaga, que estreou na edição de 2022 do IndieLisboa.

Sete festivais europeus de outros tantos países criaram o Smart7, com o objectivo de fomentar a circulação de títulos europeus. A rede é composta pelo  Festival Internacional de Cinema New Horizons (Polónia), IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema (Portugal), Thessaloniki International Film Festival (Grécia), Festival Internacional de Cinema da Transilvânia (Roménia), Festival Internacional de Cinema FILMADRID (Espanha), Festival Internacional de Cinema de Reykjavik (Islândia) e Festival Internacional de Cinema de Vilnius Kino Pavasaris (Lituânia).

Todos incluíram o programa desenvolvido e trabalharam em estreita colaboração. A lista de filmes em competição inclui "Black Stone", de Spiros Jacovides (Grécia); "Bread and Salt", de Damian Kocur; "Índia", de Telmo Churro (Portugal); "Mammalia", de Sebastian Mihailescu (Roménia); "Mannvirki", de Gústav Geir Bollason (Islândia); "Remember to Blink", de Austėja Urbaitė (Lituânia) e "Secaderos", de Rocío Mesa (Espanha). No Thessaloniki International Film Festival, o último festival do ano, o prémio da competição é atribuído por um júri constituído por um estudante de cada país dos festivais que compõem o Smart7.

No IndieMusic há espaço para o ciclo dedicado aos 50 anos do hip-hop, com curadoria de Sam the Kid, e "Little Richard: I Am Everything", que recupera as origens queer e negras do rock n" roll através do legado de Little Richard.

O IndieLisboa terá lugar entre 27 de abril e 7 de maio, no Cinema São Jorge, Culturgest, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal, Cinema Fernando Lopes e ainda com uma sessão especial na piscina da Penha de França.