Publicado em 21 Abr. 2021 às 18:51, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Temporada de prémios, Bastidores)
O cerco aperta-se em redor da Hollywood Foreign Press Association após a partilha de comentários racistas envolvendo um antigo presidente da associação que anualmente promove os Globos de Ouro.
Após oito mandatos à frente da Hollywood Foreign Press Association (HFPA), o sul-africano Phil Berk, de 88 anos, foi expulso da organização de jornalistas estrangeiros que organiza os Globos de Ouro. A causa foi um e-mail enviado no domingo pelo antigo presidente da HFPA onde este partilhava um texto de crítica ao movimento Black Lives Matter (BLM) e a um dos seus fundadores, Patrisse Cullors.
Entre outras referências, o texto com origem num comentador da extrema-direita norte-americana qualificava o BLM como "um movimento de ódio racista" e descrevia Cullors como "marxista".
Os destinatários do mail foram outros membros da HFPA, elementos do staff da organização e o advogado, e diretor de operações, Gregory Goeckner. Alguns, foram lestos a repudiar o gesto de Berk.
Um deles foi Rui Henriques Coimbra, jornalista português radicado na Califórnia e membro crítico da associação, citado pelo Los Angeles Times: "Como ex-presidente da HFPA e uma voz ainda forte e influente no grupo, não é este o género de informação que você devia disseminar aos membros da associação" disse o jornalista que acrescentou: "Por favor, remova-me de qualquer e-mail racista que deseje enviar. O Dr. Harper foi aqui notificado de que o senhor compara o movimento Black Lives Matter ao grupo de assassinos de Charles Manson."
A HFPA reagiu ao sucedido num comunicado:
Desde a sua criação que a HFPA se dedica a criar ligações culturais e a expandir a compreensão das diferentes origens através do cinema e da televisão. As opiniões expressas no artigo distribuído pelo Sr. Berk são as do autor do artigo e não refletem - de forma alguma - as opiniões e valores da HFPA. A HFPA condena todas as formas de racismo, discriminação e discurso de ódio e considera tal linguagem e conteúdo inaceitáveis.
O clima não está favorável para os lados da HFPA desde a última edição dos Globos de Ouro. Pouco antes, a imprensa norte-americana, nada tolerante para com a organização, fez notar a inexistência de negros entre os seus 87 associados. Outras notícias desvendaram pagamentos pouco claros feitos a membros da HFPA, a que se juntaram queixas de entraves aos pedidos de adesão.
Em fevereiro, a HFPA prometeu mudanças. Um conselheiro em diversidade, Shaun Harper, da USC Marshall School of Business, foi contratado, e a Ropes & Gray, firma de advogados, ficou encarregada de auditar e rever políticas, estatutos e formas de admitir novos membros. Contactos foram estabelecidos com organizações de direitos civis e de jornalistas negros.
Numa posição conjunta tomada a 15 de março, 100 agências de talentos e relações públicas ameaçaram a HPFA de boicote caso não esta apresente um plano de renovação profunda até 6 de maio. Em risco sério está também o contrato com a NBC e a Dick Clark Productions que emitem e produzem os Globos de Ouro e, na prática, proporcionam toda a visibilidade à associação.
Hoje, todas as boas da HFPA intenções parecem ruir. O The Hollywood Reporter noticia que os contactos de Harper com grupos de pressão e defesa dos direitos dos afroamericanos correram mal. A sua sugestão de integrar 13 jornalistas negros soou a medida avulso e insuficiente para lidar com problemas que vão bem mais fundo. O consultor, entretanto, apresentou a demissão na sequência do escândalo criado por Berk.
De fora está também a Smith & Company empresa de aconselhamento estratégico de Judy Smith (se o nome não lhe diz nada, foi a inspiração para a personagem de Olivia Pope da série "Scandal").
O THR adianta que os próximos a partir poderão ser os advogados, tanto os últimos a chegar, da Ropes & Gray, como os da Sunshine Sachs, empresa que há muitos anos aconselha a HPFA.