Publicado em 17 Fev. 2013 às 16:15, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica, Box office)
O filmSPOT preparou um olhar sobre o estado das audiências de cinema em sala em diversas partes do mundo.
Em Portugal, acossados pela austeridade e pela crise, rangemos os dentes com notícias de quebras nas idas ao cinema e encerramento de salas.
Rodeados por más notícias sofremos na pele as consequências do momento sombrio e facilmente facilmente perdemos a noção da realidade fora de portas.
Como se, de repente, fossemos uma família isolada num abrigo subterrâneo a imaginar que nada existe do lado de lá excepto a radiação mortal do inverno nuclear, ou o perigo de uma trincadela no crânio do apocalipse zombie.
Felizmente não é assim no que ao cinema diz respeito. Coexistem subidas e descidas e é correto afirmar que já não se vai ao cinema como nos anos 40, mas não há um caos generalizado, ou uma desgraça súbita e dramática. Antes um deslizar suave, sustentado, em parte, pelo crescimento de alguns países do antigo bloco soviético, pelo aparecimento em grande da China e pela diminuição da pobreza na América do Sul.
Antes de passarmos aos números, uma advertência: a informação que diz respeito a países europeus tem como base o relatório preliminar do Observatório Europeu do Audiovisual (OEA), publicado a 8 de fevereiro, em simultâneo com o início do festival de cinema de Berlim.
Como é habito, os números finais só estarão disponíveis em maio, por altura do festival de Cannes.
Os números de países exteriores ao espaço europeu foram recolhidos em publicações da especialidade, ou diretamente nas organizações oficiais que tutelam o cinema em cada mercado.
A quantidade de espectadores de cinema em sala na Europa desceu 0,9% entre 2011 e 2012.
A quebra torna-se mais acentuada se analisarmos somente os países que compõem a União Europeia. Na Europa a 27 o número de espectadores quebrou 2,4%.
A crescer em força entre os 37 mercados analisados pelo OEA estiveram os nórdicos e ainda a Roménia e a Letónia. O maior salto foi, no entanto, do pequeno mercado da Bósnia-Herzegovina que cresceu 38%. A Finlândia subiu 19%, a Roménia 16,1%; a Dinamarca 14,2% (melhor resultado em três décadas); a Suécia 11,8% (melhor resultado em 25 anos).
A Holanda teve um crescimento apenas marginal, mas suficiente para lhe dar o melhor resultado de bilheteira em 30 anos. O mercado dos países baixos somou 332 milhões de dólares e 30,6 milhões de bilhetes vendidos.
Do lado negativo, a Bulgária foi o país que perdeu maior número de espectadores (-12,9%) seguida de perto por Portugal (-12,3%). Seguiu-se a Itália (-9,9%); a Grécia (-8,6%); a Eslovénia (-8,3%); Espanha (-6,5%) e Chipre (-5.7%).
Entre os pesos pesados do continente, a França é, em termos absolutos, o mercado que mais gente coloca no escurinho do cinema - embora duvidemos da popularidade dos drops de anis por aquelas bandas. Foram 204 milhões os espectadores gauleses em 2012.
Segue-se o Reino Unido com 172,5 milhões os bilhetes vendidos em 2012, na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
A seguir vem a transcontinental Rússia, com mais um ano em crescimento, que já vale 169 milhões de espectadores, ou 1,33 mil milhões de dólares em receita bruta.
A Alemanha vendeu 135 milhões de entradas para o cinema e a Itália em crise ficou nos 101,2 milhões.
A Espanha desceu agora para sexto maior mercado europeu com 91 milhões de espectadores no ano passado.
No que diz respeito à quota de mercado das produções locais, a Turquia manteve o cinema produzido internamente a excelente nível com 46,6% (50,2% em 2011).
Outro país tradicionalmente forte é a França que voltou a manter a quota da cinematografia gaulesa nos 40%.
Outros mercados com forte implantação dos filmes produzidos internamente foram o Reino Unido (32,1%, mas sempre com a ajuda das co-produções com os EUA); a Dinamarca (28,5%) e a Finlândia (28%).
As maiores diferenças positivas em comparação com o ano anterior vieram da Finlândia (+10,8%); de Portugal (que saiu do limbo dos 0,7% em 2011 para uns mais respeitáveis 5,5% em 2012); e a Espanha (+3,5%).
Neste aspeto particular do produto local é preciso chamar a atenção para a volatilidade dos números. O mais normal é que seja apenas um, ou dois filmes de sucesso a fazer disparar a quota de mercado e alterar a situação de um ano para o outro. Da mesma forma, a falta de desses filmes provoca automaticamente a descida dramática dessa mesma quota.
É verdade, o mercado chinês de cinema voltou a crescer, mas surge cada vez mais a pergunta: até quando?
Como a crise financeira mundial nos mostrou, os analistas tendem a embarcar na euforia geral e a esquecer o simples facto de que nada cresce para sempre. No entanto, os sinais estão aí para quem os quiser ler.
O aumento dos salários na China está a fazer com que algumas fábricas regressem à origem, ou procurem alternativas. A dúvida que fica é: terá a China capacidade para passar além do papel de produtor a baixo preço e manter os níveis de crescimento económico? Ou assistiremos ao rebentar de uma bolha de origem e dimensão ainda desconhecida?
Por agora - e tomando os números dos organismos oficiais daquele país sempre com um grãozinho de sal, pois os rapazes são dados a efabulações - a China cresceu mais 33% em comparação com 2012 e passou a ser o segundo maior mercado do mundo. Vale 2,7 mil milhões de dólares.
Ultrapassou o Japão que, depois das catástrofe de 2011 está a regressar aos poucos à normalidade e cresceu 7,7% com a particularidade de a quota de mercado dos filmes de Hollywood ter sido a mais baixa desde 1965.
A Coreia do Sul também teve um ano recorde ao somar 173,8 milhões de entradas, uma subida de 7,7% em comparação com 2011.
A América do Norte (tendemos a esquecer por facilidade na escrita, mas o box office dos EUA, na verdade engloba também o Canadá), por sua vez, cresceu 5,9% para 10,8 mil milhões de dólares.
O vizinho logo abaixo, o México, também teve um ano recorde, com 229 milhões de bilhetes vendidos, mais 21 milhões do que em 2011, a valerem 845 milhões de dólares.
Descendo um pouco mais, para a América do Sul, o Brasil teve o terceiro ano recorde consecutivo, com uma subida de 15,6% nas vendas e 5% no número de espectadores. O mercado vale agora 783 milhões de dólares e 141,6 milhões de espectadores.
Nos antípodas, a Austrália ficou a apenas 2% do seu melhor ano em termos de receitas brutas de bilheteira. O mercado australiano valeu 1,07 mil milhões de dólares americanos, o que corresponde a um número estimado de espectadores perto dos 85 milhões - para uma população de apenas 23 milhões de almas.