Publicado em 23 Jul. 2021 às 21:16, por Pedro Sesinando, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema)
Um casal procura ajuda médica após um encontro proibido e enfrenta a hostilidade e a burocracia da sociedade iraniana.
Uma pausa nas curtas para um regresso às longas. A secção "New Voices" do festival já dedicara uma sessão de curtas ao iraniano Ali Asgari e ontem tivemos a oportunidade de ver "The Disappearance", a sua primeira longa metragem já do ano de 2017.
Numa noite fria em Teerão um jovem casal percorre a cidade em busca de auxílio após um primeiro encontro sexual que terminou numa incessante hemorragia, segundo o que somos levados a entender. O casal salta de hospital em hospital, usando diferentes encenações para conseguir auxílio médico sem haver necessidade de se identificarem. Para que Sara, a protagonista, seja admitida e sujeita à cirurgia que necessita deverá ter autorização do marido ou do pai, que desconhece a relação do casal. A noite alonga-se por entre atribuladas burocracias kafkianas, adjectivo certeiro usado durante a apresentação do filme, e o cansaço vai-se abatendo sobre o jovem casal cuja vitalidade decai com o passar das horas.
Neste aspecto de perspectiva do passar do tempo, Asgari foi especialmente hábil. Sentimos de facto que acompanhámos o casal durante toda a noite. Não há muita subtileza no que Asgari quer retratar, uma sociedade patriarcal com fortes imposições institucionais e de comportamento. O mérito está, acima de tudo, em como evita atalhos para o retratar. Não há um momento de desespero contra a injustiça, nem patriarcas de sobrolho cerrado. Tanto Sara como Hamed não questionam as regras, sentem-se clandestinos, mas não ousam retirar legitimidade a essa clandestinidade.