Publicado em 20 Abr. 2013 às 12:25, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica)
As novidades e tendências marcantes na indústria de cinema estiveram em relevo na convenção anual que reúne proprietários de salas de todo o mundo.
Na última semana, a indústria de exibição cinematográfica norte-america e mundial esteve reunida em Las Vegas na sua convenção anual.
A CinemaCon serve diversos propósitos: para avaliar o estado do negócio do cinema visto do lado das salas, para refletir em novas e velhas práticas, para reclamar com os estúdios, descobrir novas formas de vender mais pipocas e refrigerantes, e até para falar de filmes.
Os estúdios aproveitam a ocasião para mostrar os alinhamentos para os próximos meses, com especial incidência no verão que se aproxima - tradicionalmente o maior pico de consumo de cinema em sala nos EUA e Canadá.
Nos próximos parágrafos vamos analisar o que de principal se passou, disse e viu na CinemaCon 2013, e saber o que está a congeminar a exibição cinematográfica para os próximos tempos...
Chamam-lhe "premium seats". São cadeiras mais largas e mais confortáveis do que as normais e transformaram-se numa das tendências faladas na CinemaCon deste ano. Se uma primeira versão educada diz que o objetivo é simplesmente providenciar mais conforto para o espectador na eterna luta entre "sofá lá de casa" e "ida ao cinema", há quem não tenha problemas em admitir que a alteração também resolve o problema do crescente número de obesos - que, pelos vistos, se tornaram num segmento de mercado.
Outra moda na CinemaCon deste ano parece ser o súbito amor das salas de cinema pelos "baby boomers". Foram várias as referências à necessidade de adaptar a oferta aos cidadãos nascidos na ressaca do pós-guerra e que já passaram os 50 anos de idade.
Um dos conceitos que está a conseguir adeptos é a construção de complexos integrados que atraiam e mantenham os clientes no cinema. Restaurantes, bares e lounges que permitam ver um filme, jantar e tomar uma bebida. Como tudo isso se conjuga com a sempre eterna necessidade de reduzir custos de exploração e pessoal é algo que, no entanto, ficou por explicar.
Outras questões permanecem no ar: se a nova tendência é atrair os mais velhos, que fazer com os jovens da geração digital, cada vez mais afastados do cinema em sala? Como se prepara o futuro? E ainda... nos anos 90 não houve um movimento semelhante para transformar os multiplexes em "recreation centers" para atrair os adolescentes? Onde é que isso nos levou?
As novas leis sobre cuidados de saúde - vulgarmente chamadas "Obamacare" - entram em vigor no próximo ano, mas os donos das salas de cinema já pensaram numa forma de lhes dar a volta.
Uma das alterações da nova legislação obriga os empregadores a pagar seguros de saúde a funcionários em emprego parcial que trabalhem no mínimo 30 horas semanais. Para evitarem esse custo, os exibidores norte-americanos decidiram cortar os horários de forma a não ultrapassarem os limites da nova lei. Ou seja, as salas vão ter menos pessoas em cada turno.
Para compensar esse decréscimo, entram em cena as máquinas de self-service: a Coca-Cola introduziu uma máquina que permite ao espectador servir-se a si próprio ao mesmo tempo que surgem aparelhos semelhantes para providenciar gelados.
O Presidente da Universal não foi meigo nas críticas à exibição. Adam Fogelson referiu-se ao sempre polémico assunto das janelas de exibição (período de tempo de exploração comercial de um filme nas diferentes plataformas, cinema, DVD, televisão, Internet...) dizendo que "vamos todos sofrer" se o modelo de negócio não mudar rapidamente. E continuou ao afirmar que "os estúdios estão a perder milhares de milhões de dólares porque o negócio do DVD caiu e está a ser substituído por outro menos rentável. Para gerarmos dinheiro de forma a produzir filmes suficientes que encham as salas de cinema precisamos de um nível de retorno adequado".
Fogelson admitiu não ter soluções na manga, mas adiantou que o preço pode ser um ponto a rever e tranquilizou os exibidores ao garantir que "as pessoas adoram cinema".
Um dos maiores desafios da exibição de cinema atual é convencer as pessoas a trocar os seus grandes ecrãs LCD e os seus sistemas de home cinema pelas tradicionais salas. Por isso, a Dolby lançou o Dolby Atmos e a Barco criou o Auro 11.1. Em comum têm o facto de serem sistemas de nova geração que proporcionam aquilo a que se chama de "som imersivo", que permite potenciar o uso do 3D digital e, alegadamente, aumentar o encanto da experiência de ver cinema em sala.
Claro que a existência de dois sistemas causa um dilema: qual deles usar? Representantes das duas empresas presentes em Las Vegas prometeram paz e amor e que será possível no futuro estabelecer compromissos que permitam a compatibilidade entre Atmos e Auro. No entanto, escaldados com problemas anteriores, os donos das salas preferem a cautela, não vá dar-se o caso de estalar uma guerra entre empresas.
Michael Karagosian, presidente da MKPE Consulting - empresa de consultoria na área da conversão digital - forneceu alguns dados interessantes sobre o processo de conversão das salas de cinema, do analógico para o digital. Segundo ele, 85% do ecrãs norte-americanos já estão convertidos para a projeção digital, enquanto na Europa o valor desce para os 67% (apesar de existirem variações importantes entre os diversos países) e na América Latina é de apenas 49%.
Apesar do fim da produção de película por parte das duas maiores empresas mundiais, Fujifilm e Kodak, o setor está a reorganizar-se. O Reino Unido surge como o pólo de resistência dos tradicionais 35mm através de empresas subsidiárias da Deluxe e Technicholor, prontas a manter o que agora é um nicho de mercado.
Parece claro que o filme não poderá simplesmente desaparecer. Um grupo feroz de cineastas como Ken Loach, Stephen Frears, Lynne Ramsay e Paul Greengrass, deseja continuar a usar o formato antigo. Por outro lado, quem trabalha com restauro e arquivo de filmes necessita de película para manter antigas obras vivas e em condições. É que, por muito obsoleto que seja, o bom e velhinho filme continua a ser o único suporte a aguentar incólume a passagem dos anos.
Uma referência curiosa, que remete para a importância de adequar a oferta ao público potencial de cada localidade, veio do dono de uma pequena rede de cinemas do Michigan. Uma das suas salas fica numa cidade que essencialmente é uma estância para reformados.
Adivinhe qual foi o maior sucesso do ano por aquelas bandas? Precisamente, "O Exótico o Hotel Marigold", que conta a história de um grupo de idosos em busca de um hotel paradisíaco na India.
Um painel sobre a pouca importância dada às mulheres no cinema contou com Geena Davis. A atriz criou uma fundação destinada, precisamente, a analisar e
combater a perceção negativa que - segundo ele - a indústria e o público têm em relação às mulheres e referiu que se trata de algo profundamente entranhado na sociedade e no tempo. Davis recordou a velha máxima usada na indústria de que os homens não vêem filmes com mulheres.
Falou-se da dificuldade em avançar com projetos que tenham mulheres como protagonistas e Paul Feig referiu a imensa pressão a que foi submetido quando dirigiu "A Melhor Despedida de Solteira", uma comédia com um elenco essencialmente feminino.
Os participante exortaram os estúdios a arriscar um pouco mais e a aumentarem a quantidade de produções com mulheres.
Faz precisamente um ano que o Sr. Peter Jackson falou entusiasticamente aos presentes na convenção de 2012 sobre a nova maravilha do cinema: a projeção a 48 fotogramas por segundo.
A verdade é que a montanha terá parido um pequeno e pouco interessante rato. Este ano, o Sr. Jackson voltou a falar aos presentes, mas não tocou sequer no assunto do HFR.
Em 2012, houve rasgar de vestes, ranger de dentes e muitos cabelos arrancados quando a presidente executiva da Regal Entertainment (um dos maiores exibidores dos EUA) mencionou a hipótese de desistir da luta contra o uso de telemóveis durante as sessões.
Este ano, o tom subiu várias oitavas com a divulgação do serviço Second Screen Live por parte da Disney. A ideia é colocar os espectadores a usarem jogos interactivos nos seus iPads enquanto vêem o filme. O conceito é aplicável apenas a algumas sessões especiais e tem sido testado com êxito em eventos onde as pessoas são convidadas a trazer os seus aparelhos eletrónicos.
A Paramount abriu a série de apresentações com "Star Trek: Into Darkness", o grande lançamento do estúdio para este verão.
Brad Pitt prosseguiu a sua missão de dizer a toda a gente que "World War Z" é um filme apesar dos problemas durante a rodagem.
O terceiro destaque foi para "Pain & Gain", o regresso de Michael Bay a um registo mais calmo depois de uma série de filmes repletos de efeitos especiais.
A Universal mostrou os diversos projetos em carteira para os meses que se avizinham com maior relevo para "Fast & Furious 6", "Despicable Me 2", "Kick-Ass 2" e 10 minutos do novo "R.I.P.D" sobre um grupo de polícias zombies... Dos filmes mais para a frente destaque para "47 Ronin", com Keanu Reeves e "Riddick", com Vin Diesel.
A Dreamworks apresentou imagens do seu filme de verão "Turbo", da sequela de "Como Treinares o Teu Dragão" (estreia prevista para junho de 2014) e ainda da passagem ao cinema das personagens televisivas "Mr. Peabody & Sherman".
A Fox levou o ator e realizador Ben Stiller e a atriz Kristen Wiig para apresentarem "The Secret Life of Walter Mitty" enquanto Sandra Bullock e Melissa McCarthy defenderam a honra da sua comédia policial "The Heat".
Outros destaques da apresentação da Fox incluíram "The Counselor", com Brad Pitt, Michael Fassbender, Javier Bardem, Cameron Diaz e Penelope Cruz; "The Wolverine", "The Internship", "Percy Jackson: Sea of Monsters", Runner Runner (com Ben Affleck e Justin Timberlake) e "Walking With Dinosaurs: The 3D Movie".
A Sony Pictures mostrou as primeiras imagens de "Monument's Men", de George Clooney e "American Hustle", de David O. Russell (o realizador de "Guia Para Um Final Feliz) e ainda um olhar prolongado sobre "White House Down" e "Isto é o Fim!".
O estúdio tentou puxar por "Grown Ups 2" através da presença de Adam Sandler, Salma Hayek, David Spade e Kevin James e mostrou trailers dos filmes de animação "Smurfs 2" e "Cloudy With a Chance of Meatballs 2", "After Earth", "The Mortal Instruments: City of Bones", "Carrie" e do documentário sobre a banda pop "One Direction".
A Warner Bros. destacou o regresso do Super-Homem com "Man of Steel", o final da trilogia "The Hangover" e "Pacific Rim". Os respetivos realizadores, Zack Snyder, Todd Phillips e Benicio Del Toro estiveram ao vivo a defender as suas damas. O estúdio mostrou também excertos de "The Great Gatsby" de Baz Luhrmann. O alinhamento da WB ficou completo com material de "Gravity" (com George Clooney e Sandra Bullock), "Prisioners", "300: Rise of an Empire" e "We're the Millers".
A Disney trouxe Johnny Depp para fazer as honras a "The Lone Ranger" com a exibição de 20 minutos do filme. Foi ainda anunciado que, a partir de 2015, haverá um filme de "Star Wars" todos os verões.
A apresentação do estúdio terminou com a exibição integral de "Monsters University", um dos lançamentos grandes deste verão, juntamente com "Iron Man 3".
A mini-major com ambições a entrar para o clube dos grandes, a Lionsgate, trouxe a sua jóia da coroa, "Os Jogos da Fome" que verá um segundo filme estrear novembro.
Liam Hemsworth, Harrison Ford e Morgan Freeman foram as estrelas de serviço para abrilhantar a apresentação que incluiu títulos como "Ender's Game" e "The Escape Plan" com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger.