Publicado em 13 Set. 2017 às 10:37, por Samuel Andrade, em Notícias de cinema (Temas: Estreias)
O filme de Ben Weatley chega tarde às salas portuguesas, mas continua a merecer o destaque e a referência a uma mão cheia de outros títulos para lhe fazerem companhia.
Com a estreia, esta semana, de "Arranha-Céus" nas salas portuguesas, surge o pretexto para recordar cinco filmes que nos recordam a experiência, aprazível ou de pesadelo conforme as perspetivas, de viver num prédio de apartamentos.
Nesta história sobre um jovem médico que se muda para um novo arranha-céus seduzido pelo seu luxo e tecnologia de ponta, para rapidamente se ver enredado na discórdia reinante entre os residentes, o filmSPOT apresenta uma mão cheia de sugestões cinéfilas que versaram temas como o medo das alturas, a ausência de privacidade e claustrofobia, a interação com vizinhos de todo o tipo, ou o amor que pode despontar por aquela pessoa muito especial que vive num apartamento próximo.
Comédia satírica que eternizou uma das sequências mais inesquecíveis da era do Cinema Mudo, o filme (com o peculiar título original "Safety Last!") é, provavelmente, uma das primeiras demonstrações cinematográficas da vertigem causada pela imponência de um arranha-céus. Um conjunto de acrobacias, a grande altura, pontuado pelo humor e timing impecáveis de Harold Lloyd, ator celebrizado pelos "óculos tartaruga" que regularmente usava e capaz, no auge da sua fama, de rivalizar com o sucesso de Charles Chaplin e Buster Keaton.
A motivação de "tornar visível a vontade do Homem" servia de base aos planos do idealista arquitecto Howard Roark, interpretado por Gary Cooper, em erigir o edifício mais alto do mundo. Tal motor criativo surge, igualmente, na figura do arquitecto que Jeremy Irons encarna em "Arranha-Céus". No entanto, e ao contrário do protagonista do clássico realizado por King Vidor, a utopia de uma vida moderna e luxuosa, encerrada no seu arranha-céus, cedo se tornará num pesadelo de crescente desumanização e imparável discórdia.
Muitos de nós já sentiram que a mudança para uma nova casa implica sempre, além de termos de carregar toda a mobília, duas grandes incertezas: os vizinhos que nos podem calhar em sorte e a marca que os anteriores residentes deixaram no nosso novo espaço. Em "O Inquilino", Roman Polanski explora estes "traumas urbanos", numa obra de terror psicológico sobre a crescente paranóia do protagonista face à falta de privacidade e claustrofobia que pressente - ou seja, dois dos temas mais explorados no romance de J.G. Ballard que "Arranha-Céus" adapta ao grande ecrã.
Ainda no tópico da privacidade no seio de complexos de apartamentos, ninguém terá filmado o tema com maior melancolia do que o cineasta polaco Krzysztof Kieślowski. Drama sobre a obsessão amorosa de um adolescente pela vizinha que reside num prédio adjacente, "A Short Film About Love" encontra eco em "Arranha-Céus" através da terna relação que Tom Hiddlestone e Elisabeth Moss formam, num total contraste com a demência que Ben Wheatley "encena" pelo restante empreendimento.
Quando falamos de filmes onde a grandiosidade e a construção labiríntica de um arranha-céus aparentam torná-lo numa personagem própria, importa sublinhar um dos títulos obrigatórios para a definição do cinema de ação dos anos 80. Ou não fosse John McLane (encarnado por Bruce Willis, num dos papéis que cimentou a sua notoriedade mundial) encontrar nos elevadores, corredores, salas de manutenção, telhados e condutas de ventilação do Edifício Nakatomi um "adversário" quase tão letal quanto o grupo de terroristas liderado por Alan Rickman.