Publicado em 10 Jun. 2020 às 17:44, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Norte-Americano, Bastidores)
O filme foi temporariamente retirado do serviço de streaming HBO Max, mas regressará na versão integral com explicações sobre o contexto da Guerra Civil e a escravatura nos Estados Unidos.
A morte de George Floyd, asfixiado por agentes da polícia da cidade de Minneapolis, nos EUA, e as manifestações que se seguiram por todo o país, em protesto contra a brutalidade das forças da lei e racismo sistémico, está a levar a algumas atitudes por parte da indústria do entretenimento.
Depois da notícia do cancelamento da série de ação real "Cops", soube-se hoje que a Warner Bros. decidiu retirar temporariamente o filme "E Tudo o Vento Levou" da sua nova plataforma de streaming HBO Max. A retirada é apenas temporaria e o filme será recolocado com referências prévias ao contexto histórico da ação e ao modo como são retratados os descendentes de africanos e o próprio fenómeno da escravatura.
O filme de 1939, produzido por David O. Selznick e realizado por Victor Fleming, com Clark Gable, Vivien Leigh, Olivia de Havilland, Hattie McDaniel e Leslie Howard, recebeu oito Óscares entre treze nomeações.
Além deste recorde para a época e de ter sido o primeiro filme a cores a receber o Oscar para melhor filme, "E Tudo o Vento Levou" distinguiu-se por outra razão. Uma das estatuetas, a de melhor atriz secundária, coube a Hattie McDaniel, a primeira pessoa afroamericana a ganhar um Oscar (a segunda vitória apareceria apenas em 1963, com Sidney Poitier). Numa época em que a segregação racial fazia parte da rotina, McDaniel e o seu acompanhante foram obrigados a sentar-se numa mesa à parte, no fundo da sala.
Em termos absolutos, considerando as correções monetárias, continua a ser o filme com maior receita de bilheteira de todos os tempos na América do Norte. Inclui o top 10 dos 100 melhores filmes de sempre do American Film Institute desde a criação da lista, em 1988 e, um ano depois, passou a constar dos filmes eleitos para preservação pela Biblioteca do Congresso dos EUA.
"E Tudo O Vento Levou" é criticado por três razões fundamentais: pela romantização da causa do sul confederado, agrícola e esclavagista, derrotado pelo norte industrializado, pelo retrato estereotipado e simplista dos descendentes de africanos apresentados no filme, e pela ocultação dos horrores da escravatura nos estados sulistas.
Um texto do argumentista de "12 Anos Escravo", John Ridley, publicado no Los Angeles Times, apelou diretamente à HBO Max para que enfrentasse os problemas do filme. A Warner aceitou o reparo e considerou que seria "irresponsável" e "contrário aos valores" da Warner manter o filme disponível sem explicações adicionais. Numa declaração publicada na imprensa norte-americana, um porta-voz da HBO adiantou, no entanto, que o filme voltará a ser exibido na versão original. Qualquer outra opção seria, no ponto de vista da HBO e da WarnerMedia, "o mesmo que alegar que esses preconceitos nunca existiram" e conclui afirmando que "se queremos criar um futuro mais justo, equitativo e inclusivo, precisamos primeiro de reconhecer e entender a nossa história."