Cartaz de cinema

Versão restaurada de "Maria do Mar" estreia no São Luiz acompanhada pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa

Publicado em 28 Mai. 2021 às 12:11, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Português, Ciclos de cinema)

Versão restaurada de "Maria do Mar" estreia no São Luiz acompanhada pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa

A Cinemateca Portuguesa e o São Luiz Teatro Municipal apresentam, a 12 de junho, às 20h00, no Teatro Municipal São Luiz, a versão restaurada do filme "Maria do Mar", de Leitão de Barros, estreado nessa mesma sala a 20 de maio de 1930. Na sessão, a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, conduzida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo, interpreta a partitura original composta por Bernardo Sassetti a partir de uma encomenda da Cinemateca Portuguesa em 2000.

A apresentação de "Maria do Mar" marca também o arranque do projeto FILMar, conduzido pela Cinemateca, para a digitalização do cinema português relacionado com o mar, e integra o programa "A Season of Classic Films", da Association des Cinemathèques Europeénnes.

"Maria do Mar" integra a paisagem marítima e a vida dos pescadores da Nazaré com uma ficção construída à volta do ódio entre duas famílias devido à morte de um pescador, provocada acidentalmente por outro. Serão os filhos que, com o seu amor, irão reconciliar as famílias.

A versão restaurada pela Cinemateca Portuguesa em 2000 teve origem na digitalização 4K do negativo de câmara original. Alguns planos degradados ou inexistentes no negativo, assim como todos os intertítulos, foram digitalizados a partir do interpositivo produzido no restauro de 2000. O restauro digital de imagem e a correção de cor foram feitas pela Cineric Portugal. O DCP foi finalizado na Irmã Lúcia Efeitos Especiais.

José Júlio Marques Leitão de Barros nasceu no Porto a 22 de outubro de 1896. Em Lisboa frequentou o liceu e depois a Escola Superior de Belas-Artes, onde estudou arquitetura. Foi professor e manteve, ao longo da vida, uma intensa atividade como jornalista.

Deu os primeiros passos no cinema em 1918, mas dispersou-se entre a pintura e o teatro. Escreveu várias peças e trabalhou como figurinista e cenógrafo. Teve um papel pioneiro no campo do jornalismo ao introduzir em Portugal a técnica da rotogravura e a estética da fotomontagem, que aplicou nos magazines ilustrados de que foi fundador e diretor, com destaque para o Notícias Ilustrado (1928-1935).

Em 1929, com "Nazaré, Praia de Pescadores", revelou o talento de cineasta, que aprofundaria em viagens pelos estúdios europeus, absorvendo lições das escolas francesa, alemã e soviética que aplicaria em "Lisboa, Crónica Anedótica" e "Maria do Mar". A sua reputação consolidou-se com a realização de "A Severa" (1931), o primeiro filme sonoro português. Esteve ligado à criação da Tobis Portuguesa, de cujos estúdios sairiam as chamadas "comédias à portuguesa" dos anos 1930 e 1940.

Manteve estreita ligação com a ditadura, através de filmes alinhados com os valores nacionalistas do regime e, sobretudo, da encenação de alguns dos maiores eventos públicos do salazarismo: o relançamento das Marchas de Lisboa, o Cortejo Medieval de 1938 e os Grandes Cortejos Históricos de 1940 e 1947.

Assina três dramas populares, "As Pupilas do Senhor Reitor" (1935), "Maria Papoila" (1937) e "Varanda dos Rouxinóis" (1939), antes de regressar à Nazaré para rodar "Ala-Arriba! (1942), premiado no Festival de Veneza desse ano. Participa em coproduções com a Espanha franquista que resultaram em "Bocage" (1936) e termina a carreira cinematográfica com três superproduções de inspiração histórica, "Inês de Castro" (1945), "Camões" (1946) e "Vendaval Maravilhoso" (1949).

O grande fracasso deste último, combinado com a renovação estética e geracional do cinema português a partir dos anos 50  afasta Leitão de Barros do cinema de ficção. Voltou ao teatro e dedicou-se quase exclusivamente ao jornalismo, sobretudo nas suas conhecidas crónicas "Os Corvos", publicadas no Diário de Notícias entre 1953 e 1967.

As ornamentações da Cerimónia Inaugural do Panteão de Santa Engrácia foram o seu último trabalho. Morreu a 29 de junho de 1967.