Cartaz de cinema

Um olhar pelas listas dos outros

Publicado em 30 Dez. 2021 às 17:33, por António Quintas, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica)

Um olhar pelas listas dos outros

Com o ano a fechar, espreitamos o estado do gosto cinéfilo traduzido nas listagens dos melhores de 2021 em alguns meios selecionados que acompanham a Sétima Arte.

As listas são redutoras. As listas são irritantes porque quantificam o que resiste a ser quantificado. Tudo isto é verdade, mas alimentadas pelas pessoas certas, as listas também servem de úteis ferramentas e guias de atenções para títulos que precisam ser vistos. 

O filmSPOT não mantém uma crítica cinematográfica regular (apesar das excelentes contribuições pontuais de Samuel Andrade e Pedro Sesinando nas respetivas rubricas). A opção foi tomada desde o primeiro dia, não por menor consideração pela atividade, mas, pelo contrário, por mera admissão de que só vale a pena fazer crítica se esta for séria, afastando para o largo as meras considerações, aconselhamentos, ou valorizações fáceis. Porque, ao contrário do que muitos julgam, a crítica é um exercício que pouco ou nada tem a ver com simples estrelinhas, ratings atribuídos sem controlo, ou com índices baseados na frescura de frutas e legumes.

Em alternativa, olhámos para fora, na tentativa de apontar caminhos e leituras relevantes. Começamos por cá, com o "À Pala de Walsh", forte de resistência cinéfila guarnecido por gente que come rolinhos de película ao pequeno-almoço e dorme em duras camas de bobinas de nitrato. O coletivo de quase duas dezenas de colaboradores aponta "Undine", de Christian Petzold, como o mais preferido, com "The Card Counter: O Jogador", de Paul Schrader, e "First Cow - A Primeira Vaca da América", de Kelly Reichardt muito perto. A lista completa e as escolhas  individuais de cada colaborador, com respetivas impressões sobre os filmes vistos e o ano que passou, podem ser consultadas no site.

Outro pólo de boa escrita sobre cinema, o Comunidade Cultura e Arte, coloca um trio de raiz asiática no topo da tabela coletiva de melhores longas-metragens vistas em 2021. Por ordem: "Roda da Fortuna e da Fantasia", de Ryûsuke Hamaguchi; "Minari", de Lee Isaac Chung; e "Drive My Car", de Ryûsuke Hamaguchi. Ponto adicional de interesse, também compilaram uma tabela relativa às curtas-metragens que tem à cabeça "Paz", realizado a meias por José Oliveira e Marta Ramos.

A incursão pelas escolhas de melhores de 2021 em sites portugueses termina com as preferências do C7nema que escolheu "Titane", de Julia Ducournau, uma eleição unânime por parte dos quatro críticos residentes que inclui "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson, e "Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental", de Radu Jude, no top 3.

Em França, os vetustos (adjetivo aqui empregue como puro e sincero elogio) e imprescindíveis Cahiers du Cinema colocaram "First Cow - A Primeira Vaca da América", de Kelly Reichardt, no cimo do seu top 10 de 2021; seguido por "Annette", de Leos Carax; e "Memória", de Apichatpong Weerasethakul.

O Cineuropa, que se dedica à promoção e divulgação do cinema europeu, destaca apenas as produções e coproduções envolvendo países do Velho Continente. "Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental", de Radu Jude; "A Pior Pessoa do Mundo", de Joachim Trier; e "Titane", de Julia Ducournau aparecem nos três primeiros postos da lista de 25 filmes.

Do Reino Unido, o inquérito da Sight and Sound (do British Film Institute) a uma centena de críticos e jornalistas de cinema resultou num top 50 liderado por um nome da casa, Joanna Hogg e o seu "The Souvenir Part II"; seguido de "Petite maman", da francesa Céline Sciamma; e "Drive My Car", do japonês Hamaguchi Ryūsuke.

Nos Estados Unidos, a consulta da Film Comment, publicação do Lincoln Center, de Nova Iorque, aos seus colaboradores, resultou num top 10 encabeçado por "Memória", de Apichatpong Weerasethakul"; "Drive My Car", de Ryûsuke Hamaguchi; e "The Souvenir Part II", da cineasta britânica Joanna Hogg.

Para o Indiewire, os três melhores filmes do ano foram "The Power of the Dog", de Jane Campion; "Licorice Pizza", de Paul Thomas Anderson" e "Drive My Car", de Ryûsuke Hamaguchi.

No ar, através de todas estas opiniões, perpassa uma mensagem de esperança e de contentamento pelos filmes que nos chegaram, apesar das circunstâncias e ameaças várias. Não nos parece que o Cinema esteja pronto para morrer. Pode e deve mudar e refletir a mudança dos tempos - mal estaríamos se assim não fosse. Será, com certeza, outro Cinema, o de 2022 e dos anos que se seguem, como sempre, desde 1895.