Publicado em 3 Mai. 2023 às 17:52, por Pedro Sesinando, em Notícias de cinema, Opinião (Temas: O Espírito da Colmeia, Cinema Europeu)
Mostrado na secção Silvestre do Indielisboa, o filme do espanhol Jonás Trueba reforça a ideia de que é possível construir bom cinema com parcos meios.
Dizia Itsaso Arana, durante a fase de perguntas e respostas promovida pelo IndieLisboa e que sucedeu à sessão de "Têm de Vir Vê-la", que um dos pontos do filme era pensar sobre o que é necessário ou suficiente para fazer Cinema, atribuindo-lhe, de alguma forma, um carácter próximo do exercício de estilo.
Se quatro pessoas e uma casa são suficientes para fazer cinema era a questão mais específica e o filme confirma a resposta afirmativa, caso Rohmer não nos tivesse já esclarecido esse ponto. No entanto, é tremendamente injusto reduzir o filme a tal conceito.
Filmada em pleno período pandémico, a mais recente longa metragem de Jonás Trueba (protagonizada por Vito Sanz, Irene Escolar, Francesco Carril e a própria Itsaso Arana) acompanha o reencontro de um grupo de amigos, dois casais, depois do afastamento ditado pelos confinamentos e pela mudança de um dos casais para as afueras campestres de Madrid.
Desta simples premissa, Trueba e o seu quarteto de actores constroem um ensaio de uma hora sobre a erosão das relações de amizade e a forma como a nossa própria inércia contribui para esse desgaste.
Usando de algumas características atribuíveis à estética da curta metragem, Trueba consegue o fenómeno da dilatação do tempo, não apressando planos nem diálogos e sugerindo uma inquietude interna em cada uma das personagens que, inevitavelmente, as densifica e as torna empáticas.
Dizia o realizador, na supracitada sessão de perguntas e respostas, que sentia o filme como uma urgência, uma resposta ao surrealismo subjacente à pandemia e uma tentativa de reconectar com a realidade. E Trueba fá-lo sem artifícios, sem levantar a voz e tendo o bom senso de deixar o filme rir-se de si próprio. Mas da simplicidade parece surgir um subtexto, um retrato de uma geração subestimada em plena idade do desapontamento, para quem ficar na cidade ou mudar para o campo, mais que conformismo, são actos de resistência.
"Têm de Vir Vê-la" estreia esta semana nos cinemas portugueses.