Publicado em 20 Set. 2023 às 09:53, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Bastidores)
O ator revelou que a sua voz foi copiada por meio de uma aplicação de inteligência artificial e utilizada sem consentimento.
O ator britânico Stephen Fry revelou ter descoberto um documentário, aparentemente narrado pela sua voz, mas que ele desconhecia. No festival CogX, em Londres, Fry partilhou com o público um excerto onde se ouve uma voz muito idêntica à sua sem que o ator alguma vez tenha proferido aquelas palavras.
Para ele, é um caso óbvio de uso indevido de inteligência artificial para imitar o seu timbre e modulação. Fry crê que treinaram a tecnologia com base na sua narração dos audiolivros da coleção "Harry Potter".
"Não disse uma única destas palavras - foi uma máquina", explicou. "Utilizaram a minha leitura dos sete volumes dos livros de Harry Potter e, a partir desse conjunto de dados, foi criada uma IA da minha voz que fez a nova narração."
Fry resumiu os seus receios ao afirmar que, a partir de agora, "podem pôr-me a ler qualquer coisa, de uma interpelação ao parlamento até pornografia pesada, tudo sem o meu conhecimento e sem a minha autorização. E isto, o que acabaram de ouvir, foi feito sem o meu conhecimento. Ouvi falar disto, enviei-o aos meus agentes em ambos os lados do Atlântico e ficaram furiosos - não faziam ideia de que tal coisa era possível."
O aparecimento em força de tecnologias mais avançadas de inteligência artificial está a criar um conjunto de questões, éticas e legais, no cinema, na televisão e noutras áreas do entretenimento e da arte. Por um lado, coloca-se a possibilidade de uso da voz, ou mesmo do corpo digitalizado em contextos imprevistos; por outro, a hipótese de dispensa dos próprios artistas.
A inteligência artificial é uma das questões na base da greve conjunta de argumentistas e atores que decorre há meses nos Estados Unidos e que afeta a produção de filmes e séries de televisão.
Para o SAG-AFTRA, o sindicato dos atores, dirigido por Fran Drescher, a tecnologia constitui uma ameaça à existência de todas as atividades criativas. Além de pretender melhorias salariais, a paralisação exige também regras e limites para o uso da "identidade e talento dos atores sem consentimento ou remuneração".