Publicado em 30 Jul. 2021 às 10:25, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Norte-Americano, Celebridades, Box office)
Protagonista e produtora executiva em "Viúva Negra", Scarlett Johansson quer o dinheiro que a estreia simultânea em cinema e online lhe terá tirado. A Disney diz que ela não tem razão.
Era uma vez a pandemia que obrigou a fechar as salas de cinema. As grandes potências de tudo o que é audiovisual tremeram momentaneamente, mas depressa viram uma oportunidade fantástica. Tinham, por fim, o pretexto à prova de bala para quebrar o acordo que os obrigava a dar os seus filmes em exclusividade aos exibidores durante três meses e a repartir as receitas, grosso modo, 50-50.
Com os seus serviços online diretos ao cliente final novinhos em folha e desejosos de agradar, toda a gente obrigada a estar em casa e a necessidade premente de manter os accionistas felizes diante dos custos de lançamento do streaming, quase podemos ser cínicos ao ponto de afirmar que a COVID caiu que nem sopa no mel na estratégia dos estúdios (ou assim pensarão eles, recusando olhar os podres que já exalam da nova ordem).
De portas fechadas, financeiramente ameaçados, os donos das salas barafustaram, mas desta vez não tinham como reagir. O equilíbrio de poder fora quebrado.
As majors, grupo restrito, cada vez mais distante das suas raízes e reduzido em número após ondas de compras e fusões, criaram o lançamento híbrido, com os filmes a aparecerem, ao mesmo tempo, nas salas e nos serviços de streaming. Devia ser uma solução temporária, até o coronavírus e as máscaras cirúrgicas passarem à história, mas a caixinha de Pandora foi aberta e será difícil regressar ao status quo anterior.
Mas este baile não se dança apenas a dois. Atores, realizadores e produtores arregalaram os olhos para as contas e viram milhões de dólares a voar janela fora para a bolsa dos estúdios. Uns, como Dennis Villeneuve, ou Christopher Nolan bateram no peito e alegaram crime de lesa majestade contra o cinema arte. Outros, como Will Smith, garantiram discretas compensações pelas perdas.
Feito o resumo da novela, chegamos ao caso de Scarlett Johansson. Primeira figura em "Viúva Negra" onde igualmente garantiu um lugar na mesa dos produtores, também foi das que chegou à conclusão de que isto do streaming lhe mexe no bolso e dá entrada a uma queixa num tribunal de Los Angeles.
Afirmam os advogados da Senhorita Johansson que o lançamento híbrido representa uma quebra de contrato e que a Disney tentou deliberadamente surripiar uma fatia do bolo total das receitas através da Disney+ onde os ganhos revertem na quase totalidade para o estúdio - com excepção de uns 15% desembolsados para intermediários online. Acrescenta a queixa que a atriz chamou antecipadamente a atenção da Disney para este problema tendo sido ignorada.
Argumentam, da mesma forma, que o lançamento na Disney+ contribuiu para o mau desempenho de "Viúva Negra" nas bilheteiras mundiais. Até agora, o filme arrecadou 318 milhões de dólares. Conseguiu o melhor primeiro fim de semana da era pandémica na América do Norte (80 milhões de dólares), apesar de, em termos absolutos ser dos piores resultados de um filme Marvel, e quebrou quase 70% no segundo fim de semana.
A Disney reagiu. Da queixa de Johansson diz que cumpriu com as obrigações contratuais, que "o processo é especialmente triste e angustiante no seu insensível desrespeito pelos horríveis e prolongados efeitos globais da pandemia da COVID-19" e relembra que ela recebeu 20 milhões de dólares à cabeça para ser Natasha Romanoff. Afirma também que "a estreia na Disney+ com Premier Access aumentou significativamente a sua capacidade de ganhar compensação adicional".