Publicado em 24 Fev. 2015 às 23:46, por Samuel Andrade, em Notícias de cinema (Temas: Estreias)
A obra de culto, onde Melanie Griffith contracenou com centenas de felinos selvagens e que causou dezenas de feridos durante as filmagens, vai conhecer nova vida em 2015.
Em 1981, o realizador Noel Marshall apresentou ao mundo o seu (único) filme, "Roar", um épico de aventura sobre uma família que convive com leões, tigres e chitas selvagens numa reserva em África e cujo material promocional assegurava: "você nunca viu um filme como "Roar", e nunca existirá outro filme como "Roar"".
No entanto, "Roar" não permanece gravado na memória de muitos cinéfilos pelo seu desempenho comercial (o filme é visto como um "desastre financeiro"), mas sim pelos contornos quase inacreditáveis da sua atribulada produção. Uma história que a Drafthouse Films, distribuidora norte-americana especializada na exibição de cinema provocador e invulgar, pretende reavivar em 2015.
A ideia de "Roar" surgiu nos anos 70, quando os então casados Noel Marshall e Tippi Hedren (protagonista de "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock), pais de Melanie Griffith, estavam a filmar em África.
A visão de um bando de leões que ocupara uma antiga casa abandonada inspirou-os a produzir um filme que apelasse à consciência do mundo sobre a caça excessiva e o tratamento deplorável dos grandes felinos em cativeiro.
Alertados para o facto de os leões serem animais extremamente territoriais que recusam conviver se não tiverem crescido juntos, Marshall e Hedren começaram a adotar e criar leões e tigres que cresceram, durante seis anos, no interior de uma mansão luxuosa em Beverly Hills.
Quando a coleção atingiu os 100 animais, a produção do filme fixou-se num rancho dos arredores de Los Angeles e assim começou um dos empreendimentos cinematográficos mais perigosos e inesquecíveis de todos os tempos.
Apesar da evidente insegurança gerada pela coabitação entre humanos e felinos não domados - um artigo na revista Life em 1971, acompanhado de imagens impressionantes, demonstrava-o plenamente - nada demoveu Noel Marshall do intuito de realizar "Roar".
Ao longo de cinco penosos anos de rodagem (o plano original de produção indicava apenas seis meses), sucederam-se mais de 70 acidentes documentados e quase fatais entre o elenco e a equipa técnica de "Roar".
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O realizador Noel Marshall foi atacado diversas vezes e sofreu ferimentos que levaram anos a sarar; o diretor de fotografia, Jan de Bont (que mais tarde viria a realizar "Speed"), foi literalmente escalpado por um leão e teve de receber 220 pontos na cabeça; Tippi Hedren fraturou uma perna e Melanie Griffith foi atingida na cara pelas garras de um leão, obrigando a atriz a submeter-se a uma operação plástica.
Somando-se a estas adversidades, a produção enfrentou ainda inundações e incêndios, doenças que mataram animais e a desistência da maioria dos financiadores do projeto.
Apesar de tudo, "Roar" conheceu mesmo estreia comercial, onze anos depois da sua génese, caindo rapidamente no esquecimento do público.
Pela mão da Drafthouse Films, vai ser possível ver "Roar" pela primeira vez em mais de trinta anos: a partir do próximo mês de abril, o filme vai ser exibido nas salas de cinema dos Estados Unidos, estando planeado o lançamento no mercado de home cinema durante o verão.