Realizador de "Biutiful" e "Amores Perros" arrasa filmes de super-heróis

Genocídio cultural. Veneno. O realizador mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu não foi meigo na altura de confessar o que pensa sobre a presença constante dos super-heróis no cinema.

Numa conversa em Nova Iorque com o site Dealine, o homem que nos deu "Amores Perros" (2000), "Babel" (2006) e "Biutiful" (2010) falou sobre a sua mais recente longa-metragem, "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", que curiosamente, aborda a história de Riggan Thompson, um ator elevado à fama no papel do super-herói Birdman, em três sucessos de bilheteira.

Quando o turbilhão do êxito passa, Thompson é apenas um ator decadente a tentar recuperar a carreira e a vida produzindo uma peça na Broadway. Outra curiosidade: o protagonista é o veterano Michael Keaton que desempenhou o papel de Batman nos anos 90 do século passado.

Interrogado sobre se alguma vez o convidaram para dirigir um filme com super-heróis, Iñarritu respondeu afirmativamente, para adiantar logo a seguir que "faria um trabalho péssimo" se tivesse de assumir a realização de um desses projetos.

E prossegue: "Creio que não há nada errado na fixação em super-heróis quando se tem sete anos, mas penso que não crescer é uma doença. As empresas e os fundos de investimento de risco têm um enorme poder sobre Hollywood e todos querem ganhar dinheiro em qualquer coisa que implique cinema."

A lógica de investimento faz com que o cineasta mexicano se mostre pouco otimista quanto ao futuro imediato da sétima arte: "Quando pode investir 100 milhões de dólares e pode receber 800 milhões ou mil milhões de dólares é muito difícil convencer as pessoas de outra coisa. Diga-lhes, você investe 20 milhões e irá receber 80 milhões. Isso é um negócio incrível, mas eles dizem: 80 milhões de dólares? Eu quero 800 milhões. Basicamente, o espaço para exibir bons filmes terminou."

Iñarritu vê também uma linha política e ideológica nos filme de super-heróis: "Honestamente, são muito de direita. Vejo-os sempre a matar pessoas porque elas não acreditam no que eles acreditam, ou porque não estão a agir como eles desejam. Odeio isso, e não sinto empatia em relação a essas personagens. Têm sido um veneno, um genocídio cultural, porque o público é tão exposto a histórias e explosões e coisas que não significam nada sobre o que ser-se humano."

E conclui: "Se observarem a mentalidade da maioria destes filmes, são realmente sobre pessoas que ricas, com poder, que vão fazer o bem, que vão matar o mal. Filosoficamente, não gosto deles."

Trailer "Birdman"

"Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" estreia em Portugal a 15 de janeiro de 2015.

A entrevista completa pode ser lida no site do Deadline.