Cartaz de cinema

Reacionário, racista e patriarcal: Adèle Haenel abandona o cinema

Publicado em 16 Mai. 2022 às 17:58, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Europeu, Bastidores)

Reacionário, racista e patriarcal: Adèle Haenel abandona o cinema

A atriz de "Retrato de Uma Rapariga em Chamas" renuncia ao cinema por razões políticas.

Adèle Haenel não quer continuar a representar em filmes. Anunciada no elenco de "L'Empire", de Bruno Dumont, a atriz abandonou o projeto e rompeu com a indústria cinematográfica para se dedicar apenas ao teatro.

Após um ano de 2019 brilhante, onde apareceu no genial "Retrato de Uma Rapariga em Chamas", de Céline Sciamma, prémio de melhor argumento no Festival de Cannes desse ano e ainda em "100% Camurça" e "Les héros ne meurent jamais", a nova estrela do cinema francês não voltou a aparecer nos ecrãs.

"Já não faço cinema", é o título da entrevista à FAQ alemã onde se define como "atriz de teatro", explica as suas razões e justifica a saída de "L'Empire".

Após ter saído da cerimónia de entrega dos prémios César 2020 em protesto pela presença de Roman Polanski (realizador acusado de violação), Haenel explica agora que rompe com a indústria cinematográfica por razões políticas e vê nesta saída uma forma de luta.

Porque a indústria cinematográfica é absolutamente reaccionária, racista e patriarcal. Estamos a enganar-nos se dissermos a nós próprios que os poderosos estão de boa vontade, que o mundo segue de facto na direcção certa sob a sua boa, e por vezes, inepta gestão.

E acrescenta, "quero participar num outro mundo, num outro cinema", deixando a porta aberta para trabalhar com pessoas que partilhem pontos de vista semelhantes e em quem confie, tais como Gisèle Vienne, ou Céline Sciamma.

Sobre a saída do elenco de "L'Empire", esclarece que o conceito inicial - um filme de ficção científica passado numa pequena aldeia do norte de França que se torna campo de batalha para cavaleiros extraterrestres disfarçados - lhe pareceu engraçado. No entanto, diz a atriz, o argumento continha referências "sexistas" e "racistas".

O guião estava cheio de anedotas sobre 'cancel culture' e violência sexual. Procurei discutir isto com o Dumont, porque pensava que era possível um diálogo. Queria acreditar pela enésima vez que não é intencional. Mas é intencional. Este desprezo é deliberado. Tal como gozam com as vítimas, com as pessoas numa situação de fraqueza. A intenção era fazer um filme de ficção científica com um elenco totalmente branco - e, portanto, uma narrativa racista. Não quis apoiar isso, por isso cancelei a minha participação.

Agora, Haenel está a fazer teatro. Justifica a opção por as apostas financeiras serem mais baixas o que torna as relações de poder menos fortes, uma situação que, segundo a atriz, permite maior espaço de manobra. Trabalha com Gisèle Vienne em "O Lago", a partir do texto do escritor suíço Robert Walser, onde interpreta três personagens infantis, peça apresentada no Festival de Viena.