Queer Lisboa 26 anuncia programa completo

Para além dos títulos de abertura e encerramento previamente anunciados – "Fogo-Fátuo", de João Pedro Rodrigues e "Esther Newton Made Me Gay", de Jean Carlomusto -, o festival apresenta os mais recentes filmes de Alain Guiraudie, Catherine Corsini, Yann Gonzalez, Leonardo Brzezicki, ou Sébastien Lifshitz, assim como a longa-metragem paquistanesa, "Joyland", duplamente premiada na passada edição do Festival de Cannes.

Com uma programação que os organizadores dizem centrar-se em questões ligadas à memória, individual e coletiva, o festival exibe ainda, em Sessão Especial, a estreia do mais recente filme do realizador argentino Marco Berger, "Los Agitadores", que se afirma como uma reflexão sobre "a masculinidade tóxica".

Na Competição de Longas-Metragens, destaque para a cinematografia brasileira com novos trabalhos de Gustavo Vinagre e Fábio Leal.

O primeiro apresenta "Três Tigres Tristes", uma deambulação, entre o cru e o surrealista, de uma juventude à procura de si mesma, numa São Paulo inclemente e distópica (filme vencedor do Teddy Award na última edição da Berlinale).

"Seguindo Todos os Protocolos", de Fabio Leal, narra o abismo mental de quem quer cumprir as normas de saúde prescritas, mas também ter relações sexuais, durante a pandemia.

O espanhol Adrián Silvestre - após sair vencedor desta competição em 2016 e merecedor de uma menção especial pelo seu documentário no ano passado - apresenta desta feita o híbrido "Mi Vacío y Yo", um dos filmes mais celebrados em festivais de cinema queer nesta temporada, onde equilibra  humor e pungência na história de Raphi, que, de pasmo em pasmo, se vai construindo como mulher.

A longa-metragem paquistanesa "Joyland", de Saim Sadiq, Queer Palm em Cannes, transporta para um ambiente aparentemente irreconciliável na cidade de Lahore, onde a família tradicional colide com uma comunidade trans em crescente afirmação.

A competição acolhe igualmente o regresso ao grande ecrã do cineasta argentino Leonardo Brzezicki, com "Errante Corazón", protagonizado por Leonardo Sbaraglia; assim como a ficção finlandesa "Girl Picture", estreia da realizadora Alli Haapasalo, que fala da emergência do amor e da sexualidade na vida de três raparigas adolescentes.

Estarão presentes no festival Esther Rollande, atriz da longa-metragem francesa "Les meilleurs", de Marion Desseigne Ravel; e Adrián Silvestre e Raphaëlle Peréz, realizador e atriz de "Mi Vacío y Yo" .

Na Competição de Documentários, Pedro Henrique França acompanha as candidaturas de pessoas LGBT nas eleições de 2020 no Brasil em "Corpolítica"; "Nuestros Cuerpos Son Sus Campos de Batalla", de Isabelle Solas, regista os esforços feitos pela comunidade trans na Argentina para uma reeducação social. "Soy Niño", retrata o processo de transição do jovem chileno Bastian pela mão da sua prima, a realizadora Lorena Zilleruelo. Em "Ardente·x·s", Patrick Muroni documenta a evolução de um coletivo de mulheres e pessoas queer que propõe pensar, discutir e reformular a produção de conteúdos pornográficos; e "Framing Agnes", com um elenco composto exclusivamente por pessoas trans tal como o seu realizador Chase Joynt, reconstitui a vida desta comunidade nos anos 50, nos EUA.

Em Lisboa, estarão presentes Patrick Muroni, assim como Pedro Henrique França.

Na secção Panorama, fora de competição, são apresentados os últimos trabalhos de consagrados como Sébastien Lifshitz (com a nova versão de "Bambi, a French Woman"), Yann Gonzalez (com a curta-metragem protagonizada pelo Oliver Sim dos The xx, que pretende aguçar o apetite para o lançamento do seu álbum de estreia a solo, "Hideous Bastard"), ou a última longa-metragem da realizadora francesa Catherine Corsini, "La fracture", vencedora da Queer Palm de Cannes em 2021.

Também parte do Panorama são o mais recente filme do francês Alain Guiraudie, a comédia "Viens je t'emmène", e o documentário de Eva Vitija baseado nos diários inéditos da romancista Patricia Highsmith.

Na Cinemateca Portuguesa – conforme  anunciado anteriormente -, o festival apresenta a retrospetiva "Notes on Camp": o Delírio Drag do "Gay Girls Riding Club", uma incursão pelo universo "camp" através da obra cinematográfica do coletivo que dá título ao ciclo, formado em finais dos anos 1950 por um grupo de homens que se juntava aos domingos para andar a cavalo, e que começou a organizar festas drag (as Annual Halloween Balls), que persistiram até finais da década de 1980.

No início da década de 1960, o coletivo começa a produzir paródias a clássicos de cinema de Hollywood que são o "camp" na sua essência.

O primeiro filme do GGRC julga-se irremediavelmente desaparecido: "Suddenly, Last Sunday", de 1962, citação direta a "Suddenly, Last Summer" (1959), de Joseph L. Mankiewicz, escrito a partir da peça de Tennessee Williams.

Seguiu-se outra curta-metragem do mesmo ano, já presente nesta retrospetiva, "Always on Sunday", paródia ao filme grego "Never on Sunday" (1960), de Jules Dassin.

Em 1963, o coletivo roda "What Really Happened to Baby Jane", apresentado um par de meses após a estreia de "What Ever Happened to Baby Jane?"; e "The Roman Springs on Mr. Stone", paródia drag a "The Roman Spring of Mrs. Stone" (1961), de José Quintero.

O primeiro título do GGRC que não é referência direta a outro filme específico surge em 1967, com "The Spy on the Fly",  sátira aos primeiros filmes com James Bond.

Em 1972 surge a primeira e única longa-metragem do coletivo, "All about Alice", alusão direta a "All about Eve" (1950), de Joseph L. Mankiewicz, protagonizado por Bette Davis e Anne Baxter.

A programação completa, os horários das sessões e mais detalhes sobre a edição 2022 do Queer Lisboa podem ser encontrados no site do festival.