Publicado em 26 Dez. 2022 às 16:45, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Box office)
Num ano que ainda fica abaixo dos níveis anteriores à pandemia, foi preciso um herói dos anos 80 para animar as salas.
Ainda não é este ano que a audiência de cinema em sala recupera para os níveis anteriores à pandemia. O início hesitante e o engarrafamento na pós-produção norte-americana prejudicaram o desenrolar de 2022.
Esperou-se uma recuperação meteórica a partir do sucesso da sequela de "Top Gun", mas os meses seguintes foram titubeantes com uma míngua de êxitos de bilheteira a ilustrar, para mal dos pecados do setor, a dependência de um leque cada vez menor de géneros.
Ao fazer regressar o seu Maverick das brumas distantes dos anos 80, Tom Cruise trouxe também de volta o poder da estrela de cinema que se julgava enterrado sob camadas de super-heróis, efeitos digitais e plataformas de streaming. Mas foi sol de pouca dura e, até ver, produto único.
O resto do top 10 nacional atesta isso mesmo. Além das acrobacias de Cruise, o conjunto dos filmes mais populares do ano em Portugal inclui uma animação - num ano fraco para o género - a adaptação de um jogo de vídeo, quatro filmes de super-heróis, uma comédia para consumo interno, o regresso de "Avatar", sólido mas longe das glórias passadas e, pasme-se diante da raridade, uma comédia romântica, espécie que tem definhado por razões diversas.
(dados atualizados a 29/12)
Olhando para o box office mundial, as diferenças são poucas. O líder volta a ser "Top Gun: Maverick" enquanto "Mundo Jurássico", ausente da tabela portuguesa, assume a segunda posição numa lista onde ainda cabem dois filmes da decadente produção chinesa.
(dados atualizados a 29/12)
Os problemas para 2023 estão identificados, mas a sua resolução prática é duvidosa. É pouco provável que os proprietários dos estúdios norte-americanos acordem para o problema criado com o streaming. O negócio parecia atraente, mas começa a mostrar fendas várias.
A redução das janelas de distribuição foi desastrosa. Ao retirar valor aos filmes em sala, agravou esse desperdício ao enterrá-los rapidamente nas plataformas digitais, onde a comunicação é desastrosa e tudo se dilui num mundo desestruturado de conteúdos quase sempre inferiores.
Por outro lado, o cansaço em relação aos produtos Marvel e DC - que inevitavelmente chegará - vai deixar um vazio difícil de ocupar, tal é a concentração de meios financeiros e criativos no seu desenvolvimento.
Mais perto estará o fim dos problemas no ritmo de produção de filmes que surgiu na ressaca do COVID. O calendário de lançamentos em 2023 parece mais equilibrado. Resta saber se haverá espectadores suficientes nas salas.