Publicado em 2 Abr. 2013 às 14:00, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica, Cinema Norte-Americano)
"Iron Man 3" e "World War Z" são os mais recentes filmes a sofrer alterações para a exibição na China.
As cópias de "Homem de Ferro 3" (Iron Man 3) na China terão mais cenas passadas naquele país do que a versão norte-americana.
O anúncio veio da própria Marvel que deseja rentabilizar o facto de o filme ter sido parcialmente rodado em Pequim e agradar tanto ao público chinês como, em particular, ao governo daquele país, que controla todos os aspetos da distribuição e exibição.
Outras fontes revelam ainda que se trata de uma última e desesperada tentativa de obter o estatuto de co-produção, uma benesse raramente atribuída e que permite, ao mesmo tempo, retirar o filme da apertada quota de títulos estrangeiros a estrear anualmente nas salas chinesas e recolher uma percentagem maior das receitas num mercado em que as empresas norte-americanas recebem bastante menos do que no resto do mundo.
Se neste caso se trata apenas de uma estratégia comercial - pouco vista, é verdade, mas perfeitamente legítima dada a crescente importância do mercado chinês - o mesmo não se passa com "World War Z".
A adaptação ao cinema do livro de Max Brooks sobre uma epidemia que transforma grande parte da humanidade em hordas devastadoras de mortos-vivos, sofrerá um pequeno mas fundamental corte na narrativa para não ofender a sensibilidade chinesa.
No filme, Brad Pitt é um funcionário das Nações Unidas que percorre o mundo em busca da origem do problema, o primeiro ser humano infetado. Se no livro a epidemia tem início na China, na versão para o grande ecrã o "paciente zero" mudará de país, para outro local onde as receitas de bilheteira sejam consideravelmente menos importantes.
A reverência dos estúdios norte-americanos em relação às autoridades chinesas e ao respetivo código de censura tem vindo a aumentar ao mesmo tempo que aquele mercado sobe de relevância nas contas da indústria. Em 2012, a China ultrapassou o Japão e passou a ser o segundo maior mercado mundial a seguir aos EUA, em termos de receitas brutas de bilheteira, mesmo que os lucros obtidos naquele país ainda sejam menores devido às enormes percentagens exigidas pelos exibidores - com o beneplácito do governo, bem entendido.
No ano passado, uma cena de "007-Skyfall" foi cortada para impedir que por aqueles lados assistissem à morte de um funcionário de segurança chinês - os censores temiam que o público visse os agentes da lei como incompetentes. Cenas de tortura e os típicos vilões chineses também não passam no crivo da censura e outros filmes como "Karate Kid", "Piratas das Caraíbas", ou "Homens de Negro" também sofreram alterações apenas para poderem entrar no circuito de exibição do Império do Meio.
Curiosamente, ninguém parece importar-se muito com o facto de o vilão do próximo "Iron Man 3" ser uma personagem chamada Mandarin...