Cartaz de cinema

"O Espírito da Colmeia" por Pedro Sesinando
O Golfinho, o Brexit e um grande momento no Festival de Cinema Documental de Melgaço

Publicado em 4 Ago. 2022 às 17:06, por Pedro Sesinando, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: O Espírito da Colmeia)

O Golfinho, o Brexit e um grande momento no Festival de Cinema Documental de Melgaço

Notas sobre "Four Seasons in a Day", de Annabel Verbeke e "All of Our Heartbeats Are Connected through Exploding Stars", de Jennifer Rainsford, dois filmes exibidos no terceiro dia do festival.

A língua de água conhecida como Carlingford Lough é habitada por golfinhos, sendo que um destes mamíferos ganhou uma notoriedade semelhante a uma certa criatura que habitará o Lago Ness a norte da Escócia.

Acredita-se em Carlingford que há um golfinho, baptizado de Finn, que acompanha diariamente o percurso do ferry que atravessa o Lough¸ escoltando as centenas de pessoas que todos os dias atravessam esta fronteira marítima entre a República da Irlanda e o Ulster, parte do Reino Unido.

Situado temporalmente numa altura em que o debate sobre o Brexit era nota corrente, "Four Seasons in a Day", de Annabel Verbeke, aproveita o simbolismo do ferry que cruza uma fronteira que se quer imaginária para imergir na comunidade, particularmente do lado do Ulster, onde a possibilidade de uma hard border poderá levar a reacendimentos entre os fiéis à coroa britânica e os que almejam uma Irlanda unida.

All of Our Heartbeats Are Connected through Exploding Stars

Partindo do tsunami que atingiu o Japão em Março de 2011, Jennifer Rainsford constrói em "All of Our Heartbeats Are Connected through Exploding Stars", um ensaio sobre a vivência do luto e do trauma em situações de desastre natural.

A grande força do filme reside nos testemunhos de quem sobreviveu - assombroso o relato do homem que decidiu começar a fazer mergulho de profundidade porque acreditava ser a única forma de recuperar o corpo da mulher, sepultado no oceano.

No entanto, a força visual das imagens de microssistemas subaquáticos, evocação ao Petztold de "Undine", pontuadas por uma narração quase declamatória da própria Rainsford, e o brilhante arranjo musical de Teho Teardo, são fundamentais para a ideia de reconstrução, da natureza e do ser humano, de que o filme não parece querer abrir a mão.

O grande momento do MDOC até à data.