Publicado em 1 Dez. 2013 às 19:20, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Primeiro olhar, Cinema Português)
Visitámos a produção do filme com os super-heróis lusitanos.
Uma tarde fria de inverno, em Lisboa. Como sempre, aos domingos, a cidade está deserta. Apesar do sol, o cidadão lusitano prefere o aconchego do lar humilde, mas honesto, onde a família repousa e se prepara para mais uma semana de trabalho.
Nem desconfia o inocente habitante da capital do Império que, ali perto, dois insignes heróis lutam com todas as forças contra os inimigos da pátria, gente torpe e sem lei, que nada mais pretende se não instilar a desordem, destruir os valores da nação e vender-nos à corja vermelha que infesta o mundo.
Instituto Superior Técnico, domingo 1 de dezembro. O majestoso edifício central do campus da Alameda, construído em inícios dos anos 30 a partir de um projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro - um dos primeiros modernistas portugueses - serve na perfeição para recriar o ambiente de uma mostra de jóias em pleno Estado Novo. Um expositor partido e estilhaços de vidro espalhados pelo chão servem de aviso - algo estranho se passa....
O edifício central do Instituto Superior Técnico serve de cenário à Expojóia '68.
De regresso à realidade, a única coisa estranha neste projeto "Capitão Falcão" foi mesmo a quantidade de tempo que decorreu após a apresentação da ideia, no festival MoteLx, nos idos de 2011, sob a forma de um episódio-piloto.
A reação na altura foi maioritariamente positiva - apesar de algumas caretas de gente incomodada pelo aparecimento de um super-herói fascista que trabalha diretamente sob as ordens de António de Oliveira Salazar. O conceito era brilhante. Uma dupla de super-heróis lusitanos, colocados num imaginário muito próximo do Batman e Robin dos anos 60 com Adam West e Burt Ward. Um capitão fiel aos princípios do Estado Novo e seguidor incondicional do ditador, acompanhado por um parceiro em uniforme da Mocidade Portuguesa. Os seus inimigos, uma corja de comunistas do pior, barbudos e de fato de macaco vermelho, armados de foice e martelo.
O pior veio depois. Rumores deram o projeto na SIC Radical, falou-se de RTP, mas após dois anos de nacional-engonhanço por parte dos canais a ideia inicial de produzir uma série de televisão acabou por morrer.
O realizador João Leitão prepara as próximas cenas.
Sem respostas, João Leitão e companhia decidiram avançar por sua conta e risco. Empréstimo bancário pedido, contrato de distribuição com a Zon Audiovisuais assinado e lá vão eles cantando e rindo a caminho da aventura de produzir uma longa-metragem para cinema.
O mês de rodagem termina agora, no início de dezembro. Um mês passado entre a antiga prisão de Santarém, o Instituto Superior Técnico, o Santiago Alquimista e os estúdios da Nova Imagem.
Três terríveis comunistas mantêm uma distância segura do Capitão Falcão.
Quando o filmSPOT visitou a rodagem, no IST, estava a terminar a pausa para almoço. No piso superior, três atores vestidos de comunistas punham-se cuidadosamente a salvo dos apetites do Capitão Falcão.
Após algum tempo, a equipa regressa. A próxima cena inclui cinco novas e muito coloridas personagens que não vimos no episódio piloto - garantem-nos que o filme será muito diferente.
Pelo diálogo ficamos a saber que são velhos conhecidos do Capitão e que agora se reencontram em campos opostos.
Matamba Joaquim (ao centro)
Para quem nunca assistiu à rodagem de um filme, há algo que é essencial saber: tem tudo a ver com espera e paciência. Por vezes, segundos de ação demoram horas a preparar e ainda há muito trabalho pela frente até o dia acabar.
Preparar, ensaiar, corrigir. Silêncio no plateau! Sucedem-se os takes. João Leitão observa, dirige os atores, ouve sugestões e mostra-se concentrado, mas feliz.
Gonçalo Waddington (Capitão Falcão), tenta proteger-se do frio com um patriótico cobertor verde e rubro enquanto relê os próximos diálogos.
David Chan, o Puto Perdiz, enverga o uniforme da Mocidade Portuguesa. Para além de desempenhar o papel de companheiro inseparável do herói, David coordena também os duplos da sua própria equipa, os Madstunts, e as cenas de luta são coreografadas por ele.
Perguntamos pela data de estreia. Ainda é segredo. Algures até ao verão, dizem-nos... "E que tal o 25 de abril?" - lançamos nós. Risos...
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Imagens: Marco Almeida