Publicado em 23 Abr. 2021 às 15:14, por Samuel Andrade, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: Síndrome do Vinagre)
Do documentário português ao humor de Buster Keaton, eis cinco filmes estreados em 1921.
De 1921, os compêndios de História registam, de modo sumário e relevante, acontecimentos como a eleição de Warren G. Harding a presidente dos Estados Unidos da América, a fundação do Partido Comunista em Portugal, Espanha e China, o Prémio Nobel da Física entregue a Albert Einstein, o surgimento e ascensão ao poder de partidos fascistas na Alemanha e na Itália, o desenvolvimento da primeira vacina contra a tuberculose, os distúrbios raciais de Tulsa, a insurreição militar em Lisboa que ficou conhecida como Noite Sangrenta, ou a fundação, em Florença, da Casa Gucci.
Também há cem anos, o mundo pôde assistir a uma fértil produção cinematográfica, tanto nos Estados Unidos da América como em diversos países europeus: 1921 foi o ano em que Charles Chaplin apresentou "O Garoto de Charlot", Rudolph Valentino imortalizou-se enquanto protagonista de "O Sheik", o realizador francês Jacques Feyder levou ao grande ecrã o influente "Atlântida", a pioneira Lois Weber estreou o drama romântico "The Blot" e "O Carro Fantasma", de Victor Sjöström, converteu-se no primeiro grande filme de produção sueca.
Apesar destes títulos fundamentais, o Arquivo desta semana incide em filmes menos célebres, mas vivamente recomendados, com um século de existência. Documentários de vanguarda, ou que destacam a vivência portuguesa na década de 1920, passando pelo slapstick de Buster Keaton e o drama assinado por uma das primeiras mulheres realizadoras, até a um peculiar exemplo de Expressionismo Alemão, seguem cinco sugestões para melhor conhecer o que os espectadores de cinema fruíram em 1921.
Considerado como um dos primeiros documentários norte-americanos de estética avant-garde, e pioneiro no género designado por "city symphonies", "Manhatta" proporciona, nos seus breves dez minutos, o vislumbre sobre a Nova Iorque das primeiras décadas do Século XX. Realizado por um artista plástico (Charles Sheeler) e um fotógrafo (Paul Strand), o filme presta homenagem visual à arquitetura da cidade, partindo de uma série de planos expressivos sobre o Porto de Nova Iorque, o terminal marítimo de Staten Island, ou a Ponte de Brooklyn, e culminando nos vários arranha-céus de Manhattan.
(Fontes: Film Arts Guild / Kino Video)
Com a duração de duas bobinas de filmes (ou o que, na indústria, se designava como um "two-reel"), "The Boat" foi uma das curtas-metragens de Buster Keaton que mais sucesso obteve na sua data de estreia. Curiosa versão do clássico tema do Homem contra as máquinas, com o apurado timing cómico do seu protagonista e alguns impressionantes efeitos especiais, observamos os esforços de Keaton em impedir que o seu barco – batizado de "Damfino", que gerará um dos gags mais inspirados do filme – naufrague em pleno Oceano Pacífico.
(Fonte: First National Pictures)
Filme encomendado pelo município da Covilhã à produtora Invicta Film, em 1921, e realizado por Artur Costa de Macedo (cineasta que se dedicou, sobretudo, ao filme documental), é-nos desvendada a Covilhã em 1921: as suas paisagens naturais e zonas de pastoreio, a indústria têxtil – com destaque para a produção de lã – da região e os mercados de batata, fruta, hortaliças e pão. O filme encontra-se preservado pela Cinemateca Portuguesa, sendo também possível visualizá-lo na Cinemateca Digital.
(Fontes: Câmara Municipal da Covilhã / Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema)
Frances Marion é, nos dias que correm, um nome praticamente desconhecido no seio da cultura cinéfila geral. No entanto, esta pioneira do cinema não só foi a primeira profissional a arrecadar dois Oscars de Melhor Argumento, como assinou mais de 300 guiões durante quatro décadas de carreira. "The Love Light" (em Portugal, exibido com o título "Sinal de Amor"), melodrama situado numa cidade costeira de Itália, tornou-se num dos títulos mais célebres de Frances Marion enquanto realizadora e, nos últimos anos, tem merecido crescente reapreciação crítica.
(Fontes: Mary Pickford Company / United Artists)
Um dos filmes menos recordados de Fritz Lang – o realizador dos clássicos "Metropolis" (1927) e "M – Matou" (1931) –, "Der müde Tod" (ou "A Morte Cansada", tal como foi designado no nosso país) inspirou cineastas como Alfred Hitchcock, Raoul Walsh e Luis Buñuel, sendo obra obrigatória para os entusiastas do Expressionismo Alemão. Rico em efeitos especiais inovadores para a época, o filme "personifica", no ator Bernhard Goetzke, a Morte, que aqui concede a uma mulher três oportunidades de salvar o seu amado e, assim, provar que o amor realmente triunfa sobre a morte.
(Fonte: Decla-Bioscop AG)