Publicado em 23 Nov. 2022 às 18:05, por Pedro Sesinando, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: O Espírito da Colmeia, Festivais de cinema)
Integrado no ciclo temático "Nós e a Revolução" que inclui seis obras dos cineastas húngaros Márta Mészáros e Miklós Jancsó, "Salmos Vermelhos" retrata uma revolta camponesa em finais do século XIX.
Para retratar uma revolta de camponeses na Hungria de finais do século XIX, Miklós Jancsó encenou uma alegoria musicada com planos sequência (pensa-se no Tarkovski de "Andrei Rublev") que seguem uma massa de gente espalhada em campo aberto num naturalismo teatral dir-se-ia evocativo do Pasolini dos "Contos da Cantuária2, ou do "Decameron".
Sem espaço para subtilezas, Jancsó assume o carácter revolucionário do filme, opondo as virtudes da causa e dos camponeses a um desfile de contra revolucionários, representados nas figuras da burguesia, munida do discurso condescendente das inevitabilidades da economia, da Igreja, que experimenta o ângulo moral, e do Exército, aqui retratado como braço armado da burguesia, cujo argumento é a força.
O filme embala nesta dualidade entre justos e opressores, escalando gradualmente até um clímax de violência coreografada a partir da qual se constrói a cena final em que, por entre os escombros, emerge uma ideia de perpetuidade da revolução. De tal forma que estranhamos este Jancsó, tão anormalmente optimista.