Publicado em 9 Abr. 2014 às 19:14, por Rui Brazuna, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Norte-Americano)
Obcecado com a história do primeiro apocalipse, Darren Aronofsky não se limitou a realizar um filme. As suas ideias sobre a história de Noé foram também transportadas para a banda desenhada.
As histórias da Bíblia, com o seu misto de esplendor e horror, pecado e redenção, continuam a inspirar artistas, das disciplinas mais variadas, a recriar os temas e motivos destas milenárias narrativas dando-lhes um cunho mais relevante para cada nova geração.
Darren Aronofsky, o realizador de "Pi", "Requiem for a Dream", "The Fountain", "The Wrestler" e "Black Swan", estreia agora o seu mais recente projecto que é nem mais nem menos do que a re-interpretação de uma das mais antigas histórias registadas no Génesis: o Grande Dilúvio e a história de Noé e da sua arca.
Vista numa perspectiva puramente cinematográfica pode-se argumentar que a história do Grande Dilúvio é a raiz de todas as narrativas cataclísmicas, e assim todas as narrativas escritas ou filmadas têm sempre o Dilúvio, directa ou indirectamente, como referência fundadora.
Darren Aronofsky assinou um filme ousado e naturalmente controverso, um "art-film" com o orçamento de um blockbuster de Hollywood, e apesar de algumas inconsistências, o filme é um claro sucesso artístico e comercial.
Porém, a obsessão de Aronofsky com a história de Noé já existe há muito, tendo originado um argumento co-escrito com Ari Handel que está na base na adaptação desta ousada e singular novela gráfica ilustrada pelo talentoso Niko Henrichon, e editada nos EUA pela Image Comics.
Henrichon ilustra o argumento de Aronofsky e Handel de um modo ao mesmo tempo muito realista e surreal, combinando uma palete de cores quentes como os laranjas com os azuis que premonizam o mundo aquático.
Henrichon é particularmente hábil na criação da atmosfera de desolação de um mundo à beira do precipício, o argumento da novela gráfica é, nos detalhes, algo diferente do filme de Aronofsky, porém o essencial da sua interpretação é semelhante.
Noé, é aqui um proto-ambientalista, um homem devoto que segue as ordens do Criador e constrói uma enorme Arca capaz de alojar exemplares da fauna terrestre que irão repovoar o planeta depois do castigo divino.
A novela gráfica é também a história da sobrevivência de uma família cujo patriarca tem uma ligação especial com o Criador.
Aronofsky, Handel e Henrichon encontraram um equilíbrio bastante estável entre a tradição bíblica e uma interpretação mais contemporânea que reflecte as preocupações éticas e morais do homem nos inícios do século XXI, dando-nos assim uma das mais singulares narrativas gráficas da actualidade.
"Noé", o filme, estreia esta quinta-feira, 10 de abril, nos cinemas portugueses.