Publicado em 8 Ago. 2023 às 00:47, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Obituário)
Tinha 87 anos e deixa por estrear uma última obra que terá lançamento mundial no próximo Festival de Veneza.
O americano William Friedkin, vencedor de um Óscar por "French Connection" e mestre do terror com "O Exorcista" (1973), morreu segunda-feira em Los Angeles, aos 87 anos, vítima de insuficiência cardíaca e pneumonia, confirmou a mulher, Sherry Lansing, à imprensa.
Ao lado de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, foi um dos renovadores do cinema norte-americanos nos anos 70 que se seguiu à decadência do antigo sistema de estúdios, uma geração empenhada em romper com as fórmulas clássicas que comandaram Hollywood desde os anos 30.
William David Friedkin nasceu a 29 de agosto de 1935, em Chicago. Aluno medíocre no liceu, tornou-se um cinéfilo apaixonado ainda na adolescência. Pouco depois, começou a trabalhar na sala de correio de um canal de televisão local e daí saltou diretamente para a realização de programas e documentários.
O seu primeiro filme, uma comédia musical com o duo Sony e Cher intitulada "Good Times", que Friedkin qualificaria como "intragável", antecedeu um conjunto de trabalhos mais sérios: a adaptação de uma peça de teatro inédita de Harold Pinter, "A Festa de Aniversário" (The Birthday Party), a farsa musical "Os bons velhos tempos" (The Night They Raided Minsky's), ambos de 1968; e "Os Rapazes do Grupo" (The Boys in the Band), em 1970.
Seguiram-se as duas obras que garantiram a Friedkin um lugar de destaque na história do cinema.
"Os Incorruptíveis Contra a Droga" (The French Connection), filmado quase como se de um documentário se tratasse, cheio de movimentos bruscos de câmara, violência sem filtro e ambiguidade moral, apresentou a personagem de Popey Doyle, um detetive da brigada de narcóticos de Nova Iorque que tenta desmantelar um grupo de venda de heroína com origem no porto francês de Marselha.
Valeu cinco Óscares, incluindo melhor filme, realização e melhor ator, para Gene Hackman.
Em 1973, a adaptação do sucesso literário "O Exorcista", de William Peter Blatty, abriu caminhos inéditos explorados no género do terror, com a história de uma rapariga possuída por um demónio e submetida a um ritual de exorcismo por padres católicos a tornar-se, ao mesmo tempo, um dos maiores sucessos de público de todos os tempos.
A partir deste ponto, a carreira de Friedkin perdeu consistência e brilho. "O Comboio do Medo", versão americana do clássico "O Salário do Medo", de Henri-Georges Clouzot, foi abafada pelo sucesso de "Star Wars", em 1977; e o policial "Cruising", com Al Pacino, outro fracasso financeiro, foi motivo de intensos debates e controvérsias por alegadas posições homofóbicas.
Recuperaria algum do seu prestígio com o neo-noir "Viver e Morrer em Los Angeles", lançado em 1985 com um jovem Willem Dafoe num dos principais papéis.
Friedkin deixa por estrear uma última obra, "The Caine Mutiny Court-Martial", que será exibida pela primeira vez fora de competição durante o próximo Festival de Veneza, no final deste mês.