Cartaz de cinema

Morreu Lina Wertmüller: primeira mulher nomeada para um Oscar de melhor realização tinha 93 anos

Publicado em 9 Dez. 2021 às 14:20, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Obituário, Cinema Europeu)

Morreu Lina Wertmüller: primeira mulher nomeada para um Oscar de melhor realização tinha 93 anos

Lina Wertmüller morreu hoje em Roma, a cidade onde também nasceu. Tinha 93 anos, uma longa e valiosa carreira como cineasta e entrou para a história como a primeira mulher a receber a nomeação para o Oscar de melhor realização, em 1977, por "Pasqualino das Sete Beldades", uma história de contorno picaresco, entre a comédia e o drama, sobre as desventuras de um pequeno delinquente napolitano durante a Segunda Guerra Mundial. O conjunto do seu trabalho seria reconhecido pela academia norte-americana em 2019, quando lhe entregou um Oscar honorário. Nesse mesmo ano, passou a constar também do Passeio da Fama, em Hollywood.

Rebelde desde a infância, nasceu Arcangela Felice Assunta Wertmuller von Elgg Spanol von Braueich, numa família aristocrata de origem suíça e costumava falar das muitas vezes que foi expulsa de colégios católicos. Aos dezassete anos inscreveu-se na academia de teatro de Piero Sharoff e antes de se iniciar no cinema trabalhou no teatro, como cenógrafa e marionetista.

Assistente de Fellini na obra-prima "8 ½", em 1963 assinou a primeira longa-metragem, "I basilischi" (Os Inativos), premiada em Locarno.

Em 1971, Giancarlo Giannini, que se tornaria o seu actor favorito, protagoniza "Ferido na Honra", selecionado para o Festival de Cannes. Feminista e socialista convicta, filma sobretudo personagens oprimidas e desfavorecidas - operários, emigrantes, prostitutas - e aborda temas incómodos virando do avesso convenções sociais e jogos políticos. Seguiram-se "Filme de Amor e Anarquia" (1973), também presente em Cannes, "Tudo a Postos, Nada em Ordem" (1974) e "Insólito Destino" (1974).

Após a nomeação para o Oscar, a Warner propõe-lhe um conjunto de filmes nos EUA, mas só "O fim do mundo na nossa cama habitual numa noite de chuva" chegou a ser feito. O fracasso comercial ditou o regresso de Lina Wertmüller às origens para dirigir Sophia Loren em "Pacto de Sangue" (1978), ao lado de Marcello Mastroianni e do habitual Giannini.

Continou a filmar regularmente durante as décadas seguintes tendo assinado um total de 33 trabalhos para o cinema e televisão, onde se inclui "Il mio corpo per un poker", o único spaghetti western realizado por uma mulher como notou Quentin Tarantino que dela afirmou também ter sido "a primeira realizadora que conheci pelo nome".