Morreu Enzo Staiola o ator que se eternizou em "Ladrões de Bicicletas"

Morreu em Roma, a 4 de junho, Enzo Staiola, o ator italiano que se tornou célebre em criança pelo seu papel em "Ladrões de Bicicletas". Tinha 85 anos e vivia no bairro de Garbatella, onde nasceu em 1939 e permaneceu ao longo da vida.

Staiola foi descoberto em 1948 por Vittorio De Sica, que procurava rostos autênticos para o seu filme. Impressionado pelo modo como o jovem caminhava e pelo olhar expressivo, De Sica escolheu-o para interpretar Bruno Ricci, o filho do protagonista. A interpretação de Staiola seria amplamente reconhecida pela naturalidade e maturidade inesperada para um ator não profissional e tão jovem. 

A relação entre o realizador e o jovem ator ficou envolta em episódios mais tarde recriados na obra "E Foram Felizes Para Sempre".

Hoje considerado um dos títulos essenciais do cinema mundial, "Ladrões de Bicicletas" estreou em 1948 com argumento escrito por Cesare Zavattini a partir de um romance de Luigi Bartolini. A obra é frequentemente apontada como o exemplo mais puro do neorrealismo italiano, movimento cinematográfico nascido no pós-guerra, caracterizado pelo uso de atores não profissionais, filmagens em cenários reais, longe da artificialidade dos estúdios e com foco temático nas dificuldades das pessoas comuns. 

O filme retrata a luta de um pai para recuperar a bicicleta roubada, essencial para o seu novo emprego, enquanto percorre uma Roma ainda marcada pelas feridas da guerra.

O impacto de "Ladrões de Bicicletas" foi imediato e profundo. André Bazin, teórico francês do cinema e fundador dos Cahiers du cinéma, descreveu-o como "um dos primeiros exemplos de cinema puro", uma "obra-prima, perfeita e sublime". A obra influenciou cineastas em todo o mundo e continua a ser estudada e homenageada por novas gerações.

Após esse início fulgurante, Enzo Staiola participou noutros títulos do pós-guerra como "Marechiaro", de Giorgio Ferroni, "Vulcano", de William Dieterle, e "Corações sem Fronteiras", de Luigi Zampa. Trabalhou ao lado de Anna Magnani, Gina Lollobrigida e Aldo Fabrizi. A sua última atuação relevante enquanto ator infantil ocorreu ao lado de Humphrey Bogart e Ava Gardner em "A Condessa Descalça", de Joseph L. Mankiewicz, em 1954.

Nos anos seguintes, fez apenas duas aparições pontuais no cinema. Tornou-se professor de matemática e trabalhou como funcionário público, longe dos holofotes que o tinham revelado ao mundo.