Publicado em 26 May. 2025 às 18:01, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Obituário)
Realizador de obras marcantes como "Le Chagrin et la Pitié" e "L'Empreinte de la justice", Ophüls foi uma figura central do documentário político, desmontando mitos históricos e expondo verdades incómodas sobre a ocupação nazi, a colaboração e a justiça no pós-guerra.
O cineasta e documentarista francês Marcel Ophüls, figura de referência do cinema político e histórico, faleceu sábado, 24 de maio de 2025, aos 97 anos, na sua residência no sudoeste de França. A notícia foi confirmada esta segunda-feira pela família.
Nascido em 1 de novembro de 1927, em Frankfurt, Alemanha, Marcel Ophüls era filho do realizador Max Ophüls, com quem iniciou a carreira no mundo do cinema. A família fugiu da Alemanha nazi em 1933, refugiando-se inicialmente em França, antes de se exilar nos Estados Unidos em 1941, devido à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Regressado a França na década de 1950, Marcel Ophüls começou por trabalhar como assistente de realização, tendo colaborado no último filme do pai, "Lola Montès" (1955). Tentou a realização de ficção nos anos 1960, mas foi no documentário que encontrou uma voz artística e política, especialmente a partir da colaboração com a ORTF, a televisão pública francesa.
Com "Le Chagrin et la Pitié" (1969),lançou um olhar crítico sobre a França colaboracionista durante a ocupação nazi, rompendo com a narrativa dominante de uma resistência nacional unânime. O filme, centrado na cidade de Clermont-Ferrand, chocou a opinião pública e foi banido da televisão francesa durante mais de uma década, apesar de ter sido financiado por essa mesma entidade.
Lançado nas salas de cinema em 1971, tornou-se um marco incontornável do documentário político e chegou a ser nomeado para o Óscar de Melhor Documentário.
Ophüls continuaria a explorar os temas da memória histórica e da justiça, com destaque para "L'Empreinte de la justice" (1976), centrado nos julgamentos dos nazis em Nuremberga, e "Hotel Terminus: Klaus Barbie, Sa Vie et Son Temps" (1988), investigação aprofundada sobre a vida do criminoso nazi conhecido como o "carniceiro de Lyon", que lhe valeu o Óscar de Melhor Documentário em 1989.
O seu trabalho caracterizou-se por um grande rigor investigativo, conjugado com uma perspetiva profundamente humanista e uma preocupação constante com a responsabilidade individual diante da História. A sua obra continua a ser uma referência incontornável para gerações de cineastas e historiadores.
Num comunicado emocionado, o seu neto destacou o legado moral e intelectual do realizador: "Através de um olhar pessoal, sustentado por uma exigência documental rigorosa, Marcel Ophüls soube captar as marcas duradouras que a História e a política deixam nas vidas. Ensinou-nos a manter a lucidez, o compromisso e um apego profundo à democracia".