Publicado em 3 Mai. 2022 às 15:09, por Pedro Sesinando, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema)
A primeira longa de ficção da atriz e cineasta Gessica Généus propõe um olhar próximo sobre a vida das mulheres na capital do Haiti.
Após passar por Cannes na secção "Un Certain Regard", "Freda" de Gessica Généus fez a sua estreia em solo nacional no Indie Lisboa "22, integrado na Competição Internacional.
Usando como pano de fundo as ruas da capital haitiana de Port-au-Prince, agitadas pela contestação ao governo de Jovenel Möise, Généus foca a história em Freda, uma jovem estudante de um dos bairros modestos da capital, e na dinâmica interna da sua família.
Freda vive o seu dia a dia entre a escola, onde debate ciência política e colonialismo com professores e colegas, e a loja de rua gerida pela mãe e mantida por Freda e seus irmãos.
Num filme de dicotomias e subtextos, é esta a primeira que salta à vista durante o filme: Freda é interventiva e assertiva na escola e resignada ao seu papel de alicerce emocional em casa. Não há, no entanto, uma ideia óbvia de submissão de Freda relativamente à família. De facto, todas as personagens, em particular as femininas, estão individualmente empenhadas numa forma de escapismo face às agressões do quotidiano. Freda através dos estudos, a mãe Jeannette através da religião e Esther, a irmã, que entende o casamento como uma forma de sair do bairro.
Aparentemente superficial, Esther é, no entanto, a personagem mais complexa do filme, a que cede ao pragmatismo sacrificando o próprio bem estar emocional, resignada às consequências. Esther escolhe a sobrevivência à felicidade por crer que não tem alternativa, o que confere uma característica sombria a uma personagem tão luminosa.
Filmado de forma íntima, invasiva até, "Freda" é um filme que se entrega a um olhar feminino sobre as diferentes opressões de uma comunidade em ebulição, predominantemente machista e ainda com as dores próprias de uma sociedade colonizada.
"Freda" volta a ser exibido na quinta-feira, 5 de maio, às 14h30, no Cinema São Jorge.
Gessica Généus começou como atriz aos 17 anos e colaborou com vários cineastas do Haiti e de outros países. Em 2010, após o terramoto, envolve-se na reconstrução do país e trabalha em programas das Nações Unidas.
Em 2011, recebe uma bolsa para uma escola de representação em Paris. De volta ao Haiti, funda uma produtora.
Entre 2014 e 2016, dirige uma série de curtos documentários para televisão sobre figuras contemporâneas da sociedade haitiana.
Em 2017, realiza o documentário "Douvan jou ka leve", em coprodução com a televisão pública francesa.
"Freda" é a sua primeira longa-metragem.