Publicado em 19 Jun. 2025 às 18:45, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema)
O festival Il Cinema Ritrovato regressa a Bolonha de 21 a 29 de junho para celebrar a história do cinema com uma seleção de clássicos, raridades e restauros.
Menos conhecido do que inegavelmente merece, o festival Il Cinema Ritrovato de Bolonha mantém vivo o legado do cinema, recorda atores e cineastas e apresenta pequenas joias raramente vistas. Regressa de 21 a 29 de junho para celebrar a história da sétima arte.
A 39.ª edição do festival organizado pela Cineteca di Bologna terá nove dias de projeções em sete salas, incluindo o emblemático Cinema Modernissimo, o regressado Cinema Europa onde o certame deu os primeiros passos e ainda em dois espaços ao ar livre: a monumental Piazza Maggiore e a Piazzetta Pasolini.
Um dos principais pontos de interesse é a retrospetiva de Mikio Naruse, um dos quatro grandes mestres do cinema japonês clássico (ao lado de Ozu, Mizoguchi e Kurosawa), centrada no seu trabalho anterior à Segunda Guerra Mundial, de 1935 a 1939, bem como ciclos dedicados a Katharine Hepburn, Luigi Comencini e Lewis Milestone.
Aos arquivos da Dinamarca, Noruega e Suécia, a secção Norden Noir foi resgatar os primórdios do cinema noir escandinavo, antepassados das séries televisivas nórdicas contemporâneas. Os programadores salientam as projeções de "Mordets Melodi" (Melody of Murder, 1944), realizado por Bodil Ipsen, e "Døden er et Kjærtegn" (Death Is a Caress, 1949), de Edith Carlmar, uma das raras mulheres realizadoras no género à época.
Willi Forst, versátil ator e realizador austríaco que marcou o cinema de expressão alemã nos anos 30 e 40, será alvo de uma homenagem onde estarão em foco os seus dramas e comédias onde a música era elemento central.
Na tradicional e essencial secção Ritrovati e Restaurati, destinada a exibir as recentes atividades de arquivos e laboratórios de restauração, destaca-se, de imediato, a novidade "The Scarlet Drop", uma das primeiras criações de John Ford, surpreendentemente redescoberta no Chile no início de 2024, assim como a obra inédita da era soviética "Moi syn" (Meu Filho), de Evgenii Cherviakov.
Outra característica do Il Cinema Ritrovato é a apresentação de um lote de clássicos e raridades realizados, ou estreados, há cem anos. Esta edição regressa a 1925, 30.º aniversário do nascimento do cinema, em que assinaram as primeiras obras realizadores como Alfred Hitchcock, Jean Renoir, ou Josef von Sternberg, cujos respetivos filmes de estreia serão apresentados.
A secção irá ainda destacar trabalhos de Serguei Eisenstein e Carl Theodor Dreyer, todas com acompanhamento musical ao vivo, e trazer à ribalta o trabalho de mulheres realizadoras e do pioneiro do cinema afro-americano, Oscar Micheaux.
Outro ponto de interesse na seleção deste ano centra-se num género intimamente associado ao formato 16mm: o documentário musical, incluindo o subgénero do rockumentary. As técnicas de cinema direto e o apogeu da cultura musical na década de 1960 levaram à criação de filmes sobre as atuações e os estilos de vida das estrelas da música e respetivos séquitos. Grande parte dos documentários sobre músicos, concertos e festivais depressa ultrapassou as fronteiras da arte para integrar elementos políticos e de crítica social.
Os filmes escolhidos pelos curadores do Il Cinema Ritrovato transitam entre géneros musicais,ara explorar as lutas e as mudanças ocorridas entre 1960 e 1980. O programa inclui títulos como "Festival" (Murray Lerner, sobre os Newport Folk Festivals), "Right On!" (Herbert Danska, com os Last Poets), "Wattstax" (Mel Stuart, com Isaac Hayes, Albert King, Carla e Rufus Thomas), "The Decline of Western Civilization" (Penelope Spheeris, com Black Flag, Circle Jerks, Germs and X) e "Who is Poly Styrene" (documentário de Celeste Bell e Paul Sng que acompanha a luta da jovem cantora Poly Styrene, dos X Ray Spex, no final dos anos 70).