Publicado em 2 Ago. 2022 às 11:44, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Festivais de cinema, Cinema Português)
O filme aborda o fenómeno da emigração portuguesa na região de Norfolk.
"Great Yarmouth - Provisional Figures", do cineasta português Marco Martins, estará na competição do Festival de San Sebástián que se realiza entre 16 a 24 de setembro.
O filme resulta de quase cinco anos de pesquisa do realizador junto da comunidade portuguesa de Great Yarmouth - que originou uma peça de teatro estrada em 2018 - e constrói uma narrativa sobre a decadência desta cidade costeira inglesa.
Outrora um destino de férias para a classe trabalhadora britânica, Great Yarmouth é hoje um polo de pobreza endémica com uma das mais altas taxas de desemprego do Reino Unido.
A emigração portuguesa para esta zona começou com a crise económica, em 2009, e teve como destino principal as grandes fábricas de transformação alimentar. Apesar de se tratar de um trabalho essencialmente sazonal, que conhece o auge nas épocas de Natal e da Páscoa, muitos acabaram por aqui ficar e criar família.
A acção desenrola-se em 2019, três meses antes do Brexit e tem como protagonista Tânia (Beatriz Batarda) uma mulher que, com o seu marido inglês Richard, interpretado por Kris Hitchens (o protagonista de "Passámos Por Cá", de Ken Loach), ajuda as fábricas locais a recrutar trabalhadores portugueses e a instalá-los nos decadentes hotéis da Golden Mile, a via marginal da cidade.
O filme conta com a participação de muitos não-actores (trabalhadores portugueses e habitantes de Great Yarmouth que trabalham com Marco Martins há alguns anos) e ainda com Nuno Lopes, Rita Cabaço e Romeu Runa.
A escrita do guião, partilhada entre o realizador e Ricardo Adolfo, teve como base os acontecimentos, testemunhos e relatos recolhidos pelo realizador junto dos trabalhadores portugueses da Bernard Matthews (a maior fábrica de abate e transformação de perus da região) e de cidadãos ingleses, nos anos que precederam o Brexit.
Marco Martins venceu a Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes, em 2005, com a sua primeira longa-metragem, "Alice" e esteve em competição em Veneza em 2017 onde "São Jorge" valeu o Leão de Ouro a Nuno Lopes.
Recentemente, assinou o documentário "Um Corpo Que Dança", sobre o percurso do Ballet Gulbenkian.