Cartaz de cinema

Egipto e Marrocos proíbem estreia de "Exodus: Deuses e Reis" nos cinemas

Publicado em 27 Dez. 2014 às 12:33, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica)

Egipto e Marrocos proíbem estreia de "Exodus: Deuses e Reis" nos cinemas

As autoridades egípcias e marroquinas baniram o filme com base em argumentos religiosos e históricos. Em Marraqueche, uma exibidora solitária recusou obedecer e manteve o filme em exibição.

"Exodus: Deuses e Reis" não será exibido nas salas de cinema do Egipto e de Marrocos.

A autoridade reguladora no Egipto afirma que o filme contém diversas imprecisões. Entre os alegados erros, menciona a construção das pirâmides pelos judeus e o facto de o filme mostrar que foi um terramoto, e não um milagre, que provocou a separação das águas no Mar Vermelho.

A isto junta-se o facto de a censura no Egipto ser particularmente severa no que respeita à apresentação de personagens religiosas e de Moisés ser visto como um profeta pelo Corão.

No início do ano, "Noé", de Darren Aronovsky, conheceu o mesmo destino após ser conhecido um parecer negativo do instituto Al-Azhar, a mais alta autoridade religiosa do islamismo sunita no Egipto. Desta vez, as críticas vieram do chefe do conselho de censura estatal egípcia, Abdul Sattar Fathi.

Fathi apontou quatro grandes "erros" ao filme de Ridley Scott:

  • Que as pirâmides foram construídas pelos judeus, quando na verdade a construção teve lugar mil anos antes dos acontecimentos de "Exodus".

  • O facto de Moisés surgir como general e não como profeta.

  • A ausência de milagre na separação das águas do Mar Vermelho que permitiu ao judeus escaparem da perseguição pelas forças do faraó.

  • A representação dos egipcíos como vilões em fúria a perseguirem os pacíficos judeus.

E acrescentou que o Conselho recusou aprovar o filme "por respeito em relação aos sentimentos dos egípcios".

Também o escritor Gaber Asfour, Ministro da Cultura do Egipto, mostrou desagrado pelo filme porque: "Contradiz factos históricos absolutamente comprovados," - afirma - e "apresenta uma visão sionista de história".

Em grande parte filmado em território marroquino, perto de Ouarzazate, "Exodus: Deuses e Reis" tem realização de Ridley Scott ("Blade Runner", ) e conta uma versão diferente da história de Moisés e Ramsés II, das pragas do Egipto e da partida do povo judeu. O elenco, inclui Christian Bale, no papel de Moisés e Joel Edgerton como o Faraó.

Marrocos: poucas explicações e desobediência civil

Em Marrocos, a decisão surgiu de surpresa, por telefone, entre 24 e 25 de dezembro, na véspera da estreia em cinema, sem outra explicação por parte do Centro Cinematográfico Marroquino (CCM), que emite as licenças de exibição, ou sequer pelo Ministério da Cultura, tal como é noticiado pelo site Tel Quel que mostra desagrado pelo regresso da censura aos cinemas do país.

Um exibidor de Casablanca, citado pelo mesmo site afirma: "Acabei de receber ameaças das equipas do CCM se 'Exodus' fosse projetado".

Os diversos depoimentos têm em comum o facto de nada ter sido comunicado por escrito. As licenças tinham sido emitidas e a ordem para suspender a estreia foi dada apenas por telefone.

Em Marraqueche, a exibidora e distribuidora Mounia Layadi Benkirane decidiu não obedecer. "Um telefonema não obriga ninguém. Tenho uma licença de exibição e por isso estou absolutamente legal, tenho o direito de exibir o filme." - afirma a proprietária da sala Le Colisée.

Um documento oficial chegou, por fim, ontem às salas de cinema. O CCM interdita a exibição de "Exodus: Deuses e Reis" dizendo que: "O filme apresenta Deus como uma criança numa cena em que Moisés recebe a revelação."

Entretanto, o site marroquino Tel Quel cita fontes próximas do processo para colocar a hipótese de a responsabilidade pela censura pertencer ao Ministro da Comunicação e Porta-Voz do governo, Mustapha El Khalfi.

Benkirane contesta a decisão, diz que é uma questão de interpretação e queixa-se do facto de a 200 metros do seu cinema existir uma loja que vende DVDs piratas que, provavelmente, não tem problemas com as autoridades.