Publicado em 3 Nov. 2018 às 13:34, por filmSPOT, em Notícias de televisão e séries
No seguimento da pesquisa histórica realizada para a escrita de "Soldado Milhões", foram filmados nos bastidores, em pleno campo de tiro de Alcochete, alguns apontamentos documentais que mergulham na realidade das trincheiras. Reunidos com o título "A Vida nas Trincheiras", são dez mini documentários realizados por Cláudia Alves com a historiadora, Isabel Pestana Marques.
Serão exibidos diariamente na RTP3, de 5 a 16 de novembro, assinalando a comemoração do fim da Primeira Guerra Mundial. Os episódios centram-se em retratos do dia a dia, tão diversos como as marmitas, as cartas, o suicídio, a gíria utilizada e a mulher, entre outros, com recurso a documentos e fotografias de época, de arquivos como o Arquivo Histórico Militar e a Hemeroteca Portuguesa.
O exército português estava habituado às cavalgadas africanas e, de repente, foi para a Flandres, onde teve que enfrentar a neve, a lama e o frio, mas a farda e o calçado não estavam preparados para o clima e para as trincheiras.
Cada soldado levava consigo uma mochila com um cantil, uma caneca e uma marmita, onde recebia o rancho ou preparava a ração. A alimentação era completamente diferente da portuguesa, mas altamente nutrida e muito bem pensada para a guerra.
Nos estaminés perto das trincheiras, na linha de aldeias, jogava-se às cartas, aos dominós e fazia-se teatrinhos. As paródias e os torneios desportivos entre aliados eram fundamentais para regenerar forças e continuar na frente do combate.
Com o decorrer da Primeira Guerra dá-se uma desmoralização das tropas e uma mistura entre cansaço físico e psicológico. Mas enquanto os médicos começam a prestar atenção às doenças mentais dos combatentes, o exército português apelida-os de loucos ou cobardes.
Portugal não tinha enfermeiras, foram criadas nesta altura. Eram normalmente senhoras da alta sociedade que fizeram cursos de enfermagem e abandonaram as suas famílias, para poderem ir para França apoiar as forças portuguesas.
Os relatórios são administrativos, alguns diários também são muito limitados, mas as cartas contam o pulsar de toda a guerra. Porque são cartas de raiva, em que transparece para as letras todos os sentimentos de frustração, de raiva e de medo.
Durante a guerra os próprios entrincheirados vão criar uma série de vocabulário ou códigos para falarem entre si. A gíria das trincheiras foi uma forma dos soldados se apropriarem do espaço e da realidade constrangedora que era a guerra.
A pena de morte tinha sido abolida em Portugal, mas com o envio de tropas para França foi recuperada a pena de morte em teatro de guerra. Ferreira de Almeida foi apanhado a perguntar qual era o caminho para a trincheira inimiga. Perante este ato de traição foi decidida a morte.
Quando as tropas portuguesas desembarcaram na Flandres, em 1917, era vigente o republicanismo anticlerical. No entanto, os homens precisavam do sagrado para se manter na frente e de se agarrar a algo transcendental, vivendo a fé e as crenças à sua maneira.
A Primeira Guerra Mundial é a primeira vez que morrem tantos homens, num momento tão curto, e de forma tão atroz. Com ela surge o culto do soldado desconhecido, para dar rosto àqueles combatentes. Quando se homenageia um, estão se a homenagear todos.