Curtas de Vila do Conde 2023: Basil da Cunha e o regresso ao bairro

Após "O Fim do Mundo", longa metragem de 2019, Basil da Cunha regressa ao Bairro da Reboleira, em formato curta, para contar a história de Camila e Jysone numa manhã em que o bairro acorda no rescaldo de uma rusga policial.

Apresentado a Competição no Curtas de Vila do Conde de 2023, "2720", título evocativo do código postal amadorense, constrói-se sustentado em vários planos sequência que acompanham as personagens no serpentear por entre as ruelas estreitas que caracterizam o bairro da Reboleira. Estes planos são, de resto, essenciais para elevar o bairro à condição de protagonista, quer pela sua estrutura de construção labiríntica, quer, acima de tudo, pela ideia de comunidade que transpira a cada momento do filme.

Camila, uma menina de sete anos, percorre o bairro em sobressalto por saber que o irmão, também menor, teve problemas com a polícia na noite passada.

Ao deambular pelo bairro é constantemente reconfortada por gente que a trata pelo nome e que a dirige até onde o irmão terá sido avistado. Por outro lado, Jysone atravessa o bairro numa certa indolência à procura de uma boleia que lhe permita apresentar-se no primeiro dia de trabalho desde que saiu da prisão, embora parando a cada solicitação feita pelos amigos e familiares com quem se cruza.

Entre Jysone e Camila, o único ponto comum é o Bairro e as circunstâncias que este impõe, mais como refúgio que como elemento limitador, sendo o mundo exterior e, acima de tudo, a autoridade, os factores de disrupção da harmonia do bairro.

"2720" é a mais interessante proposta do cinema nacional apresentado este ano em Vila do Conde, um filme onde Basil da Cunha prescinde de entrar por um caminho de martirização das suas personagens, mas onde não prescinde de apresentar a ideia de comunidade enquanto organismo vivo de sobrevivência colectiva.