Publicado em 5 Mai. 2020 às 20:30, por Samuel Andrade, em Opinião (Temas: Síndrome do Vinagre)
O documentário de 1974 com realização de Carlos Manga é disponibilizado gratuitamente e serve como pretexto para revisitar e compreender o mais brasileiro dos géneros cinematográficos.
Fundada em 1941, com sede no Rio de Janeiro, a Atlântida Cinematográfica foi uma das empresas de produção de cinema mais bem sucedidas daquele país. Instituída com o claro objetivo de promover o desenvolvimento industrial da cinematografia do Brasil, os filmes da Atlântida foram, igualmente, uma das primeiras experiências conscientes de produção fílmica virada para o público, obtendo imenso sucesso popular na realização dos chamados "cinejornais", de dramas sociais e, sobretudo, na afirmação do género das "chanchadas", filmes que parodiavam a cultura estrangeira (em especial, a proveniente de Hollywood) e expunham as fragilidades da vida pública e social do país.
Nos seus estúdios, trabalharam nomes célebres do cinema brasileiro – tais como Grande Otelo, Anselmo Duarte, José Lewgoy, Eva Todor ou Ankito –, em filmes que não só definiram a atividade da Atlântida, como o próprio percurso do cinema brasileiro: "Moleque Tião" (1943), "Não Adianta Chorar" (1945), "Segura Essa Mulher" (1946), "Nem Sansão Nem Dalila" (1954) e "O Homem do Sputnik" (1959).
Em novembro de 1952, um incêndio no arquivo da Atlântida Cinematográfica danificou gravemente o espólio da empresa. Dez anos depois, "Os Apavorados" assinalaria a última produção inteiramente financiada pelo estúdio.
Foi a partir do material sobrevivente da produtora que, em 1974, o realizador Carlos Manga (também ele, um "habitué" daquele estúdio) organizou o documentário "Assim Era a Atlântida". Composto inteiramente por imagens dos principais filmes que saíram da Atlântida, a Cinemateca Brasileira disponibiliza agora o filme, gratuitamente e após devida revisão e conservação, no seu site oficial.
Fica, portanto, a sugestão para a descoberta de uma "era de ouro" do Cinema Brasileiro, por intermédio do género cinematográfico mais brasileiro que pode existir: a "chanchada".