Cartaz de cinema

Ciclo "O Cinema para uma luta Anti-Racista" no Padrão dos Descobrimentos

Publicado em 8 Jul. 2021 às 18:49, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Ciclos de cinema)

Ciclo "O Cinema para uma luta Anti-Racista" no Padrão dos Descobrimentos

O Doclisboa e a SOS Racismo juntam-se no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, para um programa que procura as possíveis alianças que o cinema e a luta anti-racista podem estabelecer.

"O Cinema para uma Luta Anti-Racista" é um ciclo de cinema e debates, programado pela SOS Racismo a convite do Doclisboa. A associação leva até ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, entre 19 e 25 de julho, uma proposta de reflexão sobre identidade e olhares da sociedade.  

O programa abre com o documentário "Olhares sobre o Racismo", de Bruno Cabral, Eddie Pipocas e Dércio Ferreira, produzido pela SOS Racismo em conjunto com a revista BANTUMEN, que apresenta os contributos de personalidades que integra a luta pela liberdade e igualdade social, colocando em perspectiva três décadas da luta antirracista em Portugal.

Nos dias seguintes, será possível assistir aos primeiros dois episódios da série "Racismo à Portuguesa", realizada pela jornalista e escritora Joana Gorjão Henriques e por Frederico Baptista para o jornal Público, "Mikambaru", de Vanessa Fernandes, "Treino Periférico", de Welket Bungué, "Nôs Terra", de Ana Tica, e "O Canto do Ossobó", do realizador são-tomense recentemente premiado no festival Sheffield Doc/Fest 2021, Silas Tiny.  

A programação fica completa com a exibição de "Era uma vez um arrastão", realizado por Diana Andringa, Mamadou Ba, Bruno Cabral, Joana Lucas, Jorge Costa e Pedro Rodrigues.

Cada sessão será ainda o ponto de partida para debates sobre as questões políticas e raciais levantadas pelos filmes.

As receitas de bilheteira revertem a favor da associação SOS Racismo.

PROGRAMAÇÃO

9 julho / 18h00

Olhares sobre o Racismo

de Bruno Cabral, Eddie Pipocas e Dércio Ferreira

Portugal / 2020 / 30′

Um documentário produzido numa parceria conjunta entre a SOS Racismo e a BANTUMEN que condensa os contributos de várias figuras da mobilização social e política para a causa e reflete a interseccionalidade, a diversidade e a transversalidade das várias frentes do combate contra o racismo em Portugal.

Com a presença de Dércio Ferreira.

 

20 julho / 18h00

Racismo à Portuguesa

Série realizada por Joana Gorjão Henriques e Frederico Baptista que analisa as desigualdades raciais em Portugal, em diversas áreas, recolhendo testemunhos de quem se sente vítima de diversas formas de racismo.

 

A justiça em Portugal é "mais dura" para os negros

de Joana Gorjão Henriques e Frederico Batista

Portugal / 2017 / 19′

José Semedo Fernandes recorda uma das muitas situações em que, à saída do Bairro de Santa Filomena, onde cresceu, foi mandado parar por um polícia. Nesse dia quis saber qual o fundamento que o tornava suspeito. O polícia respondeu-lhe de forma directa: "um preto é sempre um suspeito." Agora advogado, José acredita que esta visão ainda perdura. É assim que explica os cartazes espalhados pela Amadora, onde as câmaras de videovigilância do concelho são anunciadas recorrendo a uma família branca e ao slogan "Olhamos por si". "Uma pessoa branca que olhe para isto vai pensar que está a ser protegida de pessoas como eu", acusa.

Neste primeiro trabalho da série Racismo à Portuguesa, analisa-se o panorama do sistema judicial português, desde a actuação policial até às prisões, onde se verifica uma sobre-representação dos cidadãos negros.

 

Há uma preferência "óbvia" dos senhorios em arrendarem casa a brancos

de Joana Gorjão Henriques e Frederico Baptista

Portugal / 2017 / 18′

O difícil acesso à habitação por parte de pessoas negras e imigrantes é uma realidade. A maioria, ao viver nesta situação, acaba por construir a sua própria casa em bairros clandestinos, muitas vezes sem luz ou água canalizada.

Neste segundo trabalho da série "Racismo à Portuguesa", analisa-se o acesso à habitação, desde a procura de casa à construção informal de bairros.

Com a presença de Joana Gorjão Henriques.

 

21 julho / 18h00

Mikambaru

de Vanessa Fernandes

Portugal / 2016 / 31′

"Mikambaru" é uma palavra inventada pelo alter-ego de um dos personagens. O filme faz uma reflexão sobre a diáspora africana pós-colonialista, e a relação com o "Outro". Questiona as fronteiras mentais que se vão alterando de geração em geração, através do poema "Construir" de Alda Espírito Santo. É um conto de fadas de estereótipos, arquétipos e figuras religiosas que contam a sua própria história.

Com a presença de Vanessa Fernandes.

 

22 julho / 18h00

Treino Periférico

de Welket Bungué

Portugal / 2020 / 20′

Dois artistas saem para treinar, não cabem nos padrões do seu bairro, da sua cidade, nem da sua cultura impostora. "Acredito que a vossa descrição tão sensível me remete à capacidade que temos, de nos desenvolvermos para nos mantermos vivos nesse território que nos foi "devolvido" pelos colonizadores…", palavras do personagem Raça (Bruno Huca) ditas a Coragem (Isabél Zuaa). Este é um filme feito na periferia da "grande Lisboa" e discursa poética e assertivamente sobre ocupação territorial, pós-colonialismo e desigualdade social ainda vigente na cultura portuguesa.

Com a presença de Lucila Clemente.

23 julho / 18h00

Nôs Terra

de Ana Tica

Portugal / 2020 / 70′

Os pais vieram de uma antiga colónia portuguesa. Eles nasceram em Lisboa mas sentem-se mais cabo-verdianos. Saíra do bairro de infância para irem viver para o bairro social. Falam português mas também, desde muito cedo, aprenderam crioulo. Falam sobre a dualidade e a conflitualidade de pertencer a dois mundos que vivem de costas voltadas, mas que, apesar de tudo, lhes pertencem como um só. "Nôs Terra" é um documentário centrado no processo de construção de um contra discurso protagonizado por jovens negros portugueses.

 

24 julho / 18h00

O Canto do Ossobó

de Silas Tiny

Portugal / 2017 / 100′

"Rio do Ouro e Água-Izé foram das maiores roças de produção de cacau em São Tomé e Príncipe durante o período colonial português. Milhares foram marcados pelo trabalho forçado equiparado à escravatura. Regresso ao meu país, para encontrar os vestígios desse passado." Silas Tiny.

Com a presença de Silas Tiny.

 

25 julho / 18h00

Era uma vez um arrastão

de Diana Andringa, Mamadou Ba, Bruno Cabral, Joana Lucas, Jorge Costa, Pedro Rodrigues

Portugal / 2005 / 26′

10 de junho, praia de Carcavelos. Muitos jovens juntam-se ao sol. Há tensão e insultos. Depois chegará a polícia. Às 20h, as televisões apresentam ao país o "arrastão", um crime massivo, centenas de assaltantes negros, em pleno Dia de Portugal. O noticiário torna-se narrativa apaixonada de um país de insegurança e "gangs", terror e vigilância. A maré engole o desmentido policial da primeira versão dos incidentes e vários testemunhos sobre uma "inventona". O filme passa em revista um crime que nunca existiu, a atitude dos média perante uma história explosiva e as consequências políticas e sociais de uma notícia falsa.

Todos os filmes são legendados em português.