Publicado em 4 Mai. 2020 às 11:53, por Samuel Andrade, em Opinião (Temas: Síndrome do Vinagre)
A história do cinema, o analógico e o digital, filmes perdidos e reencontrados, restauros e arquivos, tudo isto cabe na nova secção que hoje estreia.
O Síndrome do Vinagre irá, regularmente, vasculhar "arquivos cinematográficos", remexer em "baús de memórias", "arejar" coleções de cassetes VHS e visitar "sótãos" onde se guardaram filmes e imagens, num exercício de invocação dos nomes, eventos e sensações que, de alguma forma, moldaram o nosso presente.
Paralelamente, iremos destacar novidades relacionadas com estes temas, tais como o restauro de uma obra cinematográfica, ou uma produção audiovisual recente que deu preferência a formatos analógicos de registo de imagem. Comemoraremos, também, o sempre feliz momento em que uma obra, considerada perdida, é redescoberta algures no mundo, e poderemos sugerir filmes ou documentários televisivos que façam das imagens de arquivo a sua matéria-prima por excelência.
No entanto, o nosso olhar não estará sempre "virado para o passado". Aqui, propomos também refletir sobre as diversas formas, vantagens e circunstâncias de como o analógico e o digital podem coexistir no seio da contemporânea produção de cinema, televisão e audiovisual.
A "síndrome do vinagre" é o termo pelo qual se designa a degradação da película feita de acetato de celulose, um problema que resulta na debilidade e encolhimento da cópia física e descoloração da imagem impressa.
Devido à libertação de ácido acético, as bobinas exalam um característico odor "avinagrado". Este processo, assim que se instala, é irreversível e imparável, pode ser nocivo para a saúde humana e, inclusive, é capaz de "contaminar" (por via do referido ácido acético) outras bobinas de filmes guardadas no mesmo espaço de uma película em estado de deterioração.
(exemplo de bobina de filme em estado avançado de síndrome do vinagre; Fonte: National Film and Sound Archive of Australia)
A introdução, desde os anos 80, de regulamentos em prol da conservação de filmes em acetato de celulose tem sido um dos principais garantes para a sobrevivência de milhares de registos audiovisuais. Tais medidas revelaram-se tão substanciais que uma cópia em película, quando armazenada nas condições atmosféricas ideais, pode ser preservada durante mais de um século.
Assim, a fragilidade demonstrada por aquele que foi o principal formato físico de audiovisual (para além de cópias de filmes, a síndrome do vinagre também pode afetar suportes como microfilmes e rolos fotográficos) durante várias décadas, e com o risco que essa condição acarreta para a preservação da memória humana – nomeadamente, as vivências e a História do Século XX – através das imagens em movimento, assumem-se como o mote para a atividade deste espaço.
Sejam muito bem-vindos a "O Síndrome do Vinagre".