Cartaz de cinema

AT&T empurra a WarnerMedia para uma fusão com o grupo Discovery

Publicado em 17 Mai. 2021 às 17:08, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica, Box office)

AT&T empurra a WarnerMedia para uma fusão com o grupo Discovery

A Warner prepara a terceira reestruturação profunda em vinte anos depois do desastre com a AOL e da aquisição pela AT&T.

A Warner Media e a Discovery vão juntar-se numa só empresa. O anúncio oficial surgiu esta segunda-feira, após informação avançada domingo pela Bloomberg News.

David Zaslav, CEO da Discovery desde 2007, vai liderar a entidade nascida da fusão. Nos termos do acordo, aprovado pelos conselhos de administração de ambas as companhias, a AT&T fica com 71% das ações da nova empresa e a Discovery com 29%.  

Espera-se que o processo fique concluído em meados do próximo ano. Antes, terá de passar pela aprovação das entidades reguladoras. Os acionistas do grupo Discovery também serão chamados a aprovar o negócio, mas os dois investidores mais importantes, o bilionário e pioneiro do cabo John C. Malone e a Advance (que no portfólio inclui a Condé Nast e uma posição acionista no Reddit) já garantiram que vão votar a favor.

Entre os ativos mais importantes da Warner Media estão os estúdios da Warner Bros. e respetivas áreas de produção e distribuição de cinema e televisão, a HBO e o seu serviço de streaming HBO Max, e os canais por cabo CNN, Cinemax, TBS, TNT e Cartoon Network.

Do outro lado, a Discovery integra canais especializados em programas sem guiões, factuais, sobre vida animal, estilos de vida e reality shows, como o Discovery Channel, Animal Planet, ID, TLC, HGTV, OWN, ou Food Network, ao lado das mais recentes aquisições de canais de desporto como o Eurosport, ou a Golf TV. Desde o início do ano conta também com a sua própria plataforma de streaming, a Discovery+ que, em abril, somava 15 milhões de clientes em todo o mundo.

Razões para o negócio

A AT&T gastou 85 mil milhões de dólares na aquisição da Time Warner Inc. em 2018 (após a compra, a empresa mudo de designação para WarnerMedia), passando, desta forma, a integrar um gigante dos conteúdos ao lado do seu negócio de telecomunicações.

Parecia boa ideia unir a estrutura tecnológica e de distribuição aos produtores e criadores de conteúdos, mas os resultados práticos tiveram pouco de positivo. Em outubro de 2016, as ações da AT&T custavam 39 dólares. Quando o mercado fechou, na passada sexta-feira, vendiam-se a apenas 32 dólares.

O negócio do entretenimento é caro e exige um investimento contínuo em conteúdos. Situação agravada pela concorrência feroz no setor do streaming que obrigou a aumentar os custos em novas séries, filmes e programas que permitam atrair e fidelizar subscritores. Como comparação, no ano passado, a AT&T comprometeu-se a gastar dois mil milhões de dólares em conteúdos originais para a HBO Max. Para o mesmo período, a Netflix anunciou investimentos de 16 mil milhões.

Ao mesmo tempo, a AT&T viu-se obrigada a investir na construção da rede de 5G, afetou 23 mil milhões de dólares no leilão de frequências e aumentou a sua rede fibra ótica para se manter competitiva perante a Verizon e a T-Mobile.

John Stankey, o novo CEO da AT&T, herdou uma empresa endividada que passou anos a adquirir novas unidades de negócio. Não lhe restou outra saída senão começar a aliviar carga.

Em fevereiro, a DirectTV, serviço de comercialização de TV por satélite, foi vendida à TPG Capital. Fora comprada em 2015 por 49 mil milhões de dólares. Vendidas foram também a plataforma de anime Crunchyroll, num negócio com Sony que envolveu 1,2 mil milhões de dólares, a presença nas telecomunicações em Porto Rico, e outras empresas de menores dimensões.

A tendência não é exclusiva da AT&T. Também a Verizon, líder norte-americana das telecoms, adotou um regime de dieta e, no início de maio anunciou a venda da AOL e Yahoo. Em 2019, vira-se livre do Tumblr e do site de notícias The Huffington Post.  

Novas caras, muitas asneiras e um futuro incerto

A entrada da AT&T levou a alterações profundas nas chefias do grupo Warner, já traumatizado pela desastrosa compra pela AOL em 2001. Os veteranos da área do entretenimento, Jeff Bewkes (CEO da Time Warner), Richard Plepler (HBO) e John Martin (Turner Broadcasting) deixaram a empresa em poucos meses. Até o chefe do estúdio, Kevin Tsujihara foi obrigado a sair após um escândalo sexual.

Em 2020, entra em cena Jason Kilar, o homem que criou o serviço de streaming Hulu. Kilar levou a cabo uma reestruturação que eliminou dois mil postos de trabalho, supervisionou o lançamento da plataforma de streaming HBO Max em ambiente de grande confusão e conflito com os serviços já existentes, e fez uma longa lista de inimigos entre donos de cinemas, produtores, realizadores e atores, ao lançar os filmes da Warner em simultâneo nas salas e online, sem acautelar os acordos anteriores.

Nas contas das guerras do streaming, a HBO tem, nesta altura, 44 milhões de subscritores - incluindo HBO e HBO Max. Está bem atrás da Disney, que há poucos dias anunciou quase 104 milhões de clientes, e da Netflix, que tem para cima de 200 milhões de clientes em todo o mundo.

Mais uma vez, em teoria, Discovery e Warner complementam-se. Ficção e não ficção, os direitos de emissão de modalidades desportivas, canais de notícias, parecem dar à nova empresa a dimensão necessária para enfrentar a concorrência. Tudo dependerá da execução, da estratégia montada por Zaslav e das pessoas por quem se irá rodear. E, claro, da evolução do negócio numa altura em que o streaming lembra um comboio desgovernado que vê a velocidade aumentar cada vez mais, sem pensar nas curvas que se aproximam.