As promessas e desilusões (até ao momento) do Festival de Sundance 2016

A decorrer até ao próximo dia 1 de fevereiro, o Festival de Sundance tem apresentado uma série de propostas que prometem dar que falar nos meses vindouros.

O certame, fundado pelo ator veterano Robert Redford, em 1978, com o intuito de servir de montra para a produção cinematográfica independente, tem adquirido a fama crescente de lançar títulos de baixo orçamento, mas com grande potencial de Oscars: nos últimos anos, obras como "Whiplash – Nos Limites", "Boyhood – Momentos de Uma Vida" ou "Bestas do Sul Selvagem" conheceram estreia mundial em Sundance, para mais tarde arrecadarem prémios e nomeações da Academia. A colheita de 2016 parece não ser diferente.

No momento em que redigimos este texto, "The Birth of a Nation" é o filme mais badalado de Sundance. Realizado e interpretado pelo quase estreante Nate Parker, esta história, sobre um escravo que liderou em 1831 o movimento de libertação de afro-americanos na Virginia, tem sido comparada ao poder dramático de "12 Anos Escravo" (merecendo uma ovação de pé por parte do público) e os seus direitos de distribuição foram adquiridos pela Fox Searchlight pelo valor recorde de 17,5 milhões de dólares. Muito possivelmente, este é o filme que apaziguará o aceso debate em torno da falta de apreço pela diversidade racial no seio do cinema norte-americano…

Entre os títulos com maior potencial público e crítico, conta-se "Manchester by the Sea". Assinado por Kenneth Lonergan, a narrativa de um homem que se vê obrigado a tomar conta do sobrinho, após a morte do pai deste, apresenta-se como veículo perfeito para o talento de Casey Affleck (Interstellar). Muitos já vaticinam uma nomeação do ator para o Oscar na cerimónia de 2017, num filme em que o irmão mais novo de Ben Affleck partilha o elenco com Michelle Williams (A Minha Semana com Marilyn) e Kyle Chandler (O Lobo de Wall Street).

Dos vários títulos que têm estreado por Sundance, muito se tem falado da prestação de Rebecca Hall (Um Presente do Passado) em "Christine". Baseado na história verídica da jornalista de televisão Christine Chubbuck, que em meados dos anos 70 cometeu suicídio durante uma transmissão ao vivo, a crítica é incansável em elogiar a profundidade psicológica alcançada pela atriz no filme.

Entre os títulos a reter da presente edição do Festival, destacam-se ainda: "Southside With You", inspirado na juventude do Presidente Barack Obama; "Certain Women", o novo filme da realizadora Kelly Reichardt; o documentário "Under the Gun", reacendendo o debate sobre a necessidade do controlo de armas de fogo nos Estados Unidos; e "Wiener-Dog", uma comédia de Todd Solondz (Diários de Um Falhado) sobre o modo como um cão observa a Humanidade em seu redor.

Com uma receção muito, mas muito morna, encontramos "Swiss Army Man". Apesar da sua curiosa sinopse – um homem perdido numa ilha deserta (Paul Dano, de "Love & Mercy - A Força de Um Génio") encontra companhia num cadáver que não só é interpretado por Daniel Radcliffe, como também sofre de flatulência… –, este foi o título que mais dividiu a plateia em Sundance, tendo sido reportado o abandono da sala, durante o filme, por parte de muitos espectadores.

Até ao último dia de Festival, no qual serão conhecidos os vencedores das várias seções competitivas, é de esperar o surgimento de mais exemplos de qualidade oriundos do novo cinema norte-americano independente.