Publicado em 7 Mar. 2021 às 20:43, por António Quintas, em Notícias de cinema (Temas: Primeiro olhar, Cinema Europeu, Cinema da América-Latina)
Um argumento escrito por Michelangelo Antonioni nos anos 70 do século XX, vai ser rodado no próximo ano.
Escrito nos anos 70, "Technically Sweet" foi um projeto que Michelangelo Antonioni tentou levar adiante entre meados dos anos 70 e inícios dos 80. Teria sido rodado entre "Zabriskie Point" (1970) e "Profissão: Repórter" (1975), com recurso a câmaras e suportes vídeo, mas a tecnologia disponível na época não satisfez os critérios do cineasta. Passada entre a Sardenha e o Amazonas, seria a história de um jornalista em plena crise existencial que embarca numa viagem pela selva amazónica que lhe mudará a vida para sempre.
"Foi doloroso para ele ter de abandonar a produção. Naquela época, a sua visão era muito avançada e, tecnicamente, ele não teria conseguido passar as ideias para o ecrã", disse Enrica Antonioni, viúva do realizador, em declarações ao Variety.
Após ter desistido do projeto, Antonioni passou o argumento para o brasileiro Jirges Ristum, seu assistente de realização em "La Luna", amigo e colaborador de Glauber Rocha, um dos nomes do Cinema Novo no Brasil. Mas Ristum, que saiu do Brasil nos anos 60, para longe da ditadura militar, e viveu em Itália, morreu cedo, aos 42 anos.
Mais uma vez, "Technically Sweet" ficou na gaveta. Só de lá saiu quando Enrica passou o manuscrito original, profusamente anotado, a André Ristum, filho de Jirges, que o apresentou à Gullane (produtora responsável pelo documentário "Senna" e por filmes como "Que Horas Que Ela Volta?").
A rodagem, que de acordo com Ristum irá seguir as indicações originais de Antonioni, tem o início das filmagens previsto para 2023, numa coprodução ítalo-brasileira.
André Ristum estreou-se nas longas-metragens em 2011, com o drama "Meu País", protagonizado por Rodrigo Santoro e Débora Falabella. Desde então, assinou "O Outro Lado do Paraíso" (prémio do público na edição 2015 do Festival de Gramado), e "A Voz do Silêncio" (2018), também vencedor de vários prémios em Gramado.
Um dos grandes do cinema italiano, Antonioni foi, até agora, um de apenas três realizadores a ter conquistado a Palma de Ouro em Cannes, O Leão de Ouro em Veneza e o Urso de Ouro em Berlim, fazendo o pleno nos maiores festivais de cinema.
Começou a trabalhar no cinema nos anos quarenta, ainda durante o regime fascista, como assistente de realização e argumentista. Em 1942, viu "Un pilota ritorna", a história de um piloto de combate que escapa de um campo de prisioneiros britânco, realizado por Roberto Rossellini.
Só começa a filmar a sério em 1950, quando assina o melodrama "Escândalo de Amor". O salto qualitativo e o início da sua afirmação enquanto autor chega cinco anos depois com "As Amigas" e, depois, com "A Aventura" (1960), Palma de Ouro em Cannes, e "A Noite" (1961), vencedor do Festival de Berlim. Seguiram-se três filmes em inglês, o marcante sucesso de "Blow Up", "Zabriskie Point" e "Profissão: Reporter".
De regresso a Itália, em 1980, dirigiu "O Mistério de Oberwald" onde pode usar pela primeira vez as técnicas de manipulação eletrónica da cor que imaginar para "Technically Sweet".
Morreu a 30 de julho de 2007, aos 94 anos, no mesmo dia em que falecia outro mestre do cinema, o sueco Ingmar Bergman.